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domingo, 17 de janeiro de 2016

A CORRUPÇÃO NO MÉXICO VAI ALÉM DE EL CHAPO



ZERO HORA 17 de janeiro de 2016 | N° 18417




POR MIGUEL GUEVARA*




No dia 8 de janeiro, o chefão do tráfico Joaquín Guzmán Loera, mais conhecido como El Chapo, foi capturado por fuzileiros navais mexicanos no Estado de Sinaloa, no norte do país. Ele havia escapado seis meses antes da prisão, um duro golpe para o presidente mexicano Enrique Peña Nieto. Após a fuga, a popularidade interna do presidente sofreu uma grande queda, e outros países começaram a questionar a capacidade das instituições mexicanas para garantir o cumprimento da lei. Peña Neto celebrou triunfalmente no Twitter a recaptura de El Chapo. Entretanto, não está nada claro se a prisão de Guzmán terá um efeito positivo significativo sobre a imagem severamente danificada do presidente.

El Chapo sempre foi uma figura escorregadia para as autoridades mexicanas. Sua primeira fuga da prisão foi em 2001, escondido em um carrinho de lavanderia. Ele permaneceu foragido por 13 anos. Nesse meio tempo, consolidou seu império de drogas: o Cartel de Sinaloa, no oeste do México. El Chapo sempre atraiu o fascínio dos mexicanos, muitos dos quais o veem como uma espécie de Robin Hood. Em Sinaloa, era conhecido por sua generosidade para com a população local.

Os presidentes conservadores Vicente Fox e Felipe Calderón, do Partido da Ação Nacional (PAN), que governaram o país de 2000 a 2012, alegadamente caçaram Guzmán. No entanto, nenhum deles foi capaz de capturá-lo. Teorias conspiratórias surgiram apontando para um possível arranjo clandestino entre El Chapo e os governos de direita.

Em 2012, Peña Nieto assumiu, restaurando no poder o Partido Revolucionário Institucional (PRI), de esquerda, que havia governado o México por quase um século. Em 2014, com menos de 18 meses na presidência, ele capturou Guzmán. Na época, o governo desfrutava a bonança do apoio internacional à sua ousada agenda reformista, incluindo a reformulação do setor de telecomunicações e um golpe contundente contra o sindicato mais poderoso do país. A revista Time até rodou uma capa com um Peña heroicamente enquadrado sobre a manchete “O Resgate do México”.

Mas a lua de mel não durou muito. Naquele mesmo ano, 43 estudantes da Escola Rural de Ayotzinapa desapareceram no sul do México. Poucos meses depois, um grupo de jornalistas revelou o escândalo de um conflito de interesses envolvendo a mulher do presidente – e depois disso, todos perderam seus empregos. Em seguida, a economia dependente do petróleo começou a sofrer diante dos preços baixos. Finalmente, em julho do ano passado, El Chapo se tornou notícia de novo: ele escapou da prisão por um engenhoso sistema de túneis, como algo saído de um filme de Hollywood.

Após a fuga, a mídia internacional começou a olhar mais criticamente para Peña Nieto, se perguntando como as coisas puderam dar errado tão rápido. Tem sido consenso afirmar que a principal fraqueza do México reside em suas instituições e em seu débil Estado de Direito.

Autoridades do governo têm usado a recaptura de Guzmán para argumentar que as instituições do país estão fortes e ativas. O ministro da Economia do México declarou recentemente: “A captura de El Chapo gera otimismo no mundo para o México, e isso incentiva o investimento estrangeiro, sinalizando que, no país, o Estado de Direito prevalece.”

Pode ser muito cedo para comemorar. O México ainda enfrenta problemas fundamentais. Até agora, nenhum oficial de alto escalão foi acusado de cumplicidade na fuga de El Chapo no último verão: apenas funcionários de nível médio foram condenados. Especialistas em segurança se perguntam como os homens de Guzmán conseguiram escavar túneis não detectados durante meses sem ter o apoio dos mais altos níveis de governo.

O presidente do Banco Central do México disse publicamente na semana passada: “A falta de segurança aumenta a incerteza e inibe o investimento”. Altos executivos dificilmente ficarão impressionados com a recaptura de El Chapo. As empresas perdem milhões de dólares todo ano devido ao ambiente de insegurança do país, e os gerentes lidam todos os dias com funcionários corruptos do governo.

Não é nenhuma surpresa que, depois da captura de Guzmán, muitos tenham se perguntado quando ele será extraditado para os Estados Unidos. Muitos mexicanos supõem que ele iria enfrentar um processo penal mais duro nos EUA do que em casa. As autoridades mexicanas também sabem disso, e é de se imaginar se é do interesse delas extraditá-lo.

O cartel de Sinaloa tem sido capaz de prosperar por causa de suas ligações diretas com os governos locais e federal. O sucesso de El Chapo é o produto de um sistema político corrupto. Ele sabe muito sobre muita gente. Se for extraditado para os EUA, provavelmente vai compartilhar com as autoridades os nomes daqueles que tornaram esse sucesso possível. Esta seria uma má notícia para a elite política mexicana, uma coorte muito coesa. Se ele compartilhasse o que sabe, poderia desencadear um efeito dominó que paralisaria as carreiras de muitos políticos ambiciosos.

No entanto, não extraditar El Chapo representa um desafio diferente para o governo. Depois de sua recaptura, ele foi levado de volta para a prisão da qual escapou em julho. Uma nova campanha presidencial começa no próximo ano, e se Guzmán escapar mais uma vez, isso não só seria um grande golpe para Peña Nieto, como também provavelmente colocaria em perigo seu próprio partido.

As apostas do governo mexicano são altas. O país está passando por uma desvalorização em câmera lenta de sua moeda, enquanto um déficit de dólares do petróleo está comprometendo as finanças públicas. A violência do narcotráfico em vastas áreas do país ainda não diminuiu. O ano mal havia começado quando uma prefeita recém-empossada foi morta ao sul da Cidade do México.

A menos que o governo de Peña Nieto possa demonstrar resultados reais do fortalecimento do Estado de Direito, os mexicanos dificilmente vão acreditar em suas promessas. A sombra de insegurança obscurece hoje cidades que antes eram consideradas refúgios seguros, incluindo a capital. Enquanto isso, a lua de mel entre o presidente e os investidores claramente acabou. Como Peña Nieto entra na fase final de sua presidência, ele enfrenta uma batalha difícil. Enquanto a captura de El Chapo pode fornecer um impulso momentâneo, os investidores estão bem conscientes dos problemas estruturais profundos do México.

Peña Nieto pode muito bem aproveitar a pequena vitória que alcançou. Mas prender um chefe do tráfico é a parte mais fácil.

Nascido e criado em Cuernavaca, México. Mestre em políticas públicas pela John F. Kennedy School of Government da Universidade de Harvard*

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