Revelamos aqui as causas e efeitos da insegurança pública e jurídica no Brasil, propondo uma ampla mobilização na defesa da liberdade, democracia, federalismo, moralidade, probidade, civismo, cidadania e supremacia do interesse público, exigindo uma Constituição enxuta; Leis rigorosas; Segurança jurídica e judiciária; Justiça coativa; Reforma política, Zelo do erário; Execução penal digna; Poderes harmônicos e comprometidos; e Sistema de Justiça Criminal eficiente na preservação da Ordem Pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O REAL, O SIMBÓLICO E O IMAGINÁRIO

A Vida de David Gale - Lacan - Trecho do filme com ideias de Lacan




Jacques-Marie Émile Lacan (Paris, 13 de abril de 1901 — Paris, 9 de setembro de 1981) foi um psicanalista francês.

Formado em Medicina, passou da neurologia à psiquiatria, tendo sido aluno de Gatian de Clérambault. Teve contato com apsicanálise através do surrealismo e a partir de 1951, afirmando que os pós-freudianos haviam se desviado, propõe um retorno aFreud. Para isso, utiliza-se da linguística de Saussure (e posteriormente de Jakobson e Benveniste) e da antropologia estrutural deLévi-Strauss, tornando-se importante figura do Estruturalismo. Posteriormente encaminha-se para a Lógica e para a Topologia. Seu ensino é primordialmente oral, dando-se através de seminários e conferências. Em 1966 foi publicada uma coletânea de 34 artigos e conferências, os Écrits (Escritos). A partir de 1973 inicia-se a publicação de seus 26 seminários, sob o título Le Séminaire (O Seminário), sob a direção de seu genro, Jacques-Alain Miller.

Pensamento

Sua primeira intervenção na psicanálise é para situar o Eu como instância de desconhecimento, de ilusão, de alienação, sede do narcisismo. É o momento do Estádio do Espelho.1 O Eu é situado no registro do Imaginário, juntamente com fenômenos como amore ódio. É o lugar das identificações e das relações duais. Distingue-se do Sujeito do Inconsciente, instância simbólica. Lacan reafirma, então, a divisão do sujeito, pois o Inconsciente seria autônomo com relação ao Eu. E é no registro do Inconsciente que deveríamos situar a ação da psicanálise.

Esse registro é o do Simbólico, é o campo da linguagem, do significante. Lévi-Strauss afirmava que "os símbolos são mais reais que aquilo que simbolizam, o significante precede e determina o significado"2 , no que é seguido por Lacan. Marca-se aqui a autonomia da função simbólica. Este é o Grande Outro que antecede o sujeito, que só se constitui através deste - "o inconsciente é o discurso do Outro", "o desejo é o desejo do Outro"[carece de fontes].

O campo de ação da psicanálise situa-se então na fala, onde o inconsciente se manifesta, através de atos falhos, esquecimentos,chistes e de relatos de sonhos, enfim, naqueles fenômenos que Lacan nomeia como "formações do inconsciente". A isto se refere oaforismo lacaniano "o inconsciente é estruturado como uma linguagem"[carece de fontes].

O Simbólico é o registro em que se marca a ligação do Desejo com a Lei e a Falta, através do Complexo de Castração, operador doComplexo de Édipo. Para Lacan, "a lei e o desejo recalcado são uma só e a mesma coisa". Lacan pensa a lei a partir de Lévi-Strauss, ou seja, da interdição do incesto que possibilita a circulação do maior dos bens simbólicos, as mulheres. O desejo é uma falta-a-ser metaforizada na interdição edipiana, a falta possibilitando a deriva do desejo, desejo enquanto metonímia. Lacan articula neste processo dois grandes conceitos, oNome-do-Pai e o Falo. Para operar com este campo, cria seus Matemas.

É na década de 1970 que Lacan dará cada vez mais prioridade ao registro do Real. Em sua tópica de três registros, Real, Simbólico e Imaginário, RSI, ao Real cabe aquilo que resiste a simbolização, "o real é o impossível", "não cessa de não se inscrever". Seu pensamento sobre o Real deriva primeiramente de três fontes: a ciência do real, de Meyerson, da Heterologia, de Bataille, e dos conceitos de realidade psíquica e de pulsão, de Freud. O Real toca naquilo que no sujeito é o "improdutivo", resto inassimilável, sua "parte maldita", o gozo, já que é "aquilo que não serve para nada". Na tentativa de fazer a psicanálise operar com este registro, Lacan envereda pela Topologia, pelo Nó Borromeano, revalorizando a escrita, constrói uma Lógica da Sexuação ("não há relação sexual", "A Mulher não existe"). Se grande parte de sua obra foi marcada pelo signo de um retorno a Freud, Lacan considera o Real, junto com o Objeto a ("objeto ausente"), suas criações.


No Brasil, um dos principais pioneiros da psicanálise lacaniana é MD Magno, fundador do Colégio Freudiano do Rio de Janeiro, em 1975, bem como Célio Garcia, um dos primeiros a introduzir o pensamento de Lacan na Universidade, em Minas Gerais. O trabalho de Lacan exerce forte influência nos rumos do tratamento psíquico, inclusive na definição de políticas de saúde mental, especialmente no Brasil.

FONTE: 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacques_Lacan

quarta-feira, 9 de julho de 2014

COMUNISMO DE CONSELHOS


JORNAL DO COMÉRCIO 09/07/2014



Guilherme Amaral




Há quase 100 anos, surgia uma corrente de pensamento influenciada pela Revolução Russa de 1917 e que foi intitulada de Comunismo de Conselhos. Para o marxista Anton Pannekoek, um dos seus principais teóricos, tratava-se de uma proposta de democracia real, em oposição ao simulacro de democracia política do capitalismo, a qual seria concebida para disfarçar o domínio de uma minoria dirigente sobre o povo. Com os conselhos, “a democracia política desaparece, porque desaparece a própria política, cedendo o lugar à economia socializada”. Trata-se de uma transição “durante a qual a classe operária luta pelo poder, destrói o capitalismo e organiza a produção social”. Esse sistema preconizava o esvaziamento completo do parlamento, incapaz, segundo os marxistas, de atender aos anseios sociais.

Em 23 de maio, a presidente Dilma Rousseff (PT) editou o Decreto nº 8.243, que institui a Política Nacional de Participação Social. Sob o pretexto de regulamentar lei que previa genericamente a criação de instrumentos de consulta e participação popular, o decreto cria uma complexa estrutura de conselhos, comitês e comissões integrados por representantes eleitos ou indicados pela sociedade civil, coordenados pela Secretaria-Geral da Presidência e capazes de pautar a gestão pública, inclusive editando atos normativos. O movimento quase passou despercebido, mas acabou recebendo atenção da imprensa e sofrendo reação da oposição. A presidente nega que o decreto solape o Parlamento, afirmando que a função deste é apenas a de aprovar “o corpo”, e que as “características do corpo” devem ser extraídas de “consulta à sociedade”. O Parlamento seria como que um mero carimbador de leis. Assim caminhamos: enquanto nós, cidadãos comuns, lidamos com o caos diário das greves, protestos e tantas outras mazelas, um grupo nem um pouco envergonhado de ser, hoje, a minoria dirigente outrora tão criticada, trabalha silenciosa e incessantemente na construção de um projeto que, de novo, não tem nada, e cujos resultados já podem ser antecipados pela experiência histórica.

Sócio de Souto Correa Advogados

segunda-feira, 7 de julho de 2014

TRÊS MESES DA LEI DO LIXO EM POA


ZERO HORA 07 de julho de 2014 | N° 17852

ERIK FARINA


CIDADANIA. Menos de uma multa por dia

A LEGISLAÇÃO QUE prevê penas para os sujões resultou em apenas 83 autuações até agora e ainda não conseguiu alterar o panorama em muitos bairros da Capital, onde os moradores continuam reclamando do acúmulo de entulho nas ruas



Passados três meses da entrada em vigor, a lei de Porto Alegre que prevê multas para quem desrespeitar as regras de descarte do lixo apresenta números tímidos. Segundo dados da prefeitura, os 33 fiscais em ação aplicaram apenas 83 autuações até agora – menos de uma por dia, na média. Além disso, os agentes municipais verificam apenas 40% das denúncias, dentro de um prazo que pode chegar a 30 dias.

Muitos moradores consideram nulo o impacto da Lei do Lixo. Dizem que praças, ruas e arroios mais afastados do Centro e com histórico de falta de limpeza continuam com sacos de lixo, garrafas e móveis velhos.

– Só ouço falar dessa lei. Não adianta fiscalizar um bairro e deixar os outros à deriva – reclama Pedro Melo, dono de um armazém próximo à Praça Visconde de Taunay, no bairro Santana.

Acostumado a recolher pedaços de plástico, restos de comida e lixo rasgado da frente da loja antes de abrir, Melo diz jamais ter visto um sujão ser multado. Admite não ter denunciado à prefeitura, por achar que demoraria para ser atendido.

Conforme o diretor do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), André Carús, a fiscalização da Lei do Lixo tem se focado nas regiões centrais, onde há maior circulação de pessoas, mas há equipes que atendem denúncias em toda a cidade. O prazo, no entanto, pode ser mais longo do que o tempo para uma enxurrada levar uma garrafa pet para um bueiro: 30 dias.

– Desde o início da fiscalização, recebemos 2.610 denúncias, e verificamos 40% delas. Há uma equipe limitada de fiscais, mas procuramos atender rapidamente aos casos mais urgentes – afirma.

Apenas uma parcela pequena das abordagens terminou em multa. A maioria ficou no recolhimento imediato dos detritos ou na alocação de lixo seco e orgânico nas lixeiras adequadas. Conforme Carús, o principal benefício da lei até o momento é a conscientização. De 459 pontos críticos verificados pelo DMLU em janeiro, 91 foram transformados em praças e jardins ou simplesmente deixaram de receber entulhos.

– Nossa prioridade é a orientação, para que as irregularidades não se repitam, e ações colaborativas com associações, empresas e condomínios – diz.

Segundo quem circula pelo Centro, as ruas de fato têm estado mais limpas, mas ainda há quem jogue garrafas plásticas e bitucas de cigarro pelos canteiros e calçadas. A estudante Thamires Rodrigues, que atravessa diariamente a Praça da Alfândega, diz que há falta de fiscalização e escassez de lixeiras.

– É complicado sair multando se faltam lixeiras. Eu estou cheia de embalagens de bala na bolsa por que não achei onde colocar.



COMO ATUAM OS FISCAIS

*Uma equipe de 33 pessoas fiscaliza as ruas. Parte circula nos dias de semana e outra verifica denúncias recebidas pelo telefone 156.

*Quando constatam infração, identificam o cidadão, que é convidado a recolher o lixo jogado na rua ou descartado no lugar errado. Se não cumpre, recebe multa de R$ 263,82 a R$ 4.221,21.

*Servidores de outras secretarias e também da Guarda Municipal estão autorizados a fiscalizar o descarte irregular.

*A presença dos agentes continuará maior na região central da cidade, onde há mais circulação de pessoas.

*Denúncias recebidas pelo telefone 156 ou pelo site do DMLU são atendidas em qualquer lugar da cidade.

CANCELAMENTO SEM BUROCRACIA



ZERO HORA 07 de julho de 2014 | N° 17852

SUAS CONTAS TELECOMUNICAÇÕES

REGULAMENTO DA ANATEL que entra em vigor amanhã prevê normas para ampliar direitos dos consumidores



Cancelar automaticamente serviços de telefonia fixa, móvel, TV por assinatura e internet, sem falar com nenhum atendente. Parece um sonho distante? Pois é o que exige um regulamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) que entra em vigor a partir de amanhã. A dificuldade para encerrar contratos com empresas de telecomunicações era uma das principais reclamações que os clientes faziam à central de atendimento da Anatel.

Agora, ao telefonar para o call center das empresas, o cancelamento será uma das opções a serem digitadas no menu principal. Na internet, o procedimento também será facilitado. Bastará se identificar por meio de um cadastro com nome de usuário e senha para solicitar a interrupção do serviço. Já no momento do pedido, o usuário será informado se deverá pagar multa ou fatura com valor proporcional aos dias que o serviço foi prestado. A operadora terá dois dias para entrar em contato e tentar convencê-lo a manter o serviço.

Para o presidente da Anatel, João Rezende, as novas regras fortalecem o poder de negociação do consumidor. As teles afirmam estar preparadas para as novas normas, mas contestam o prazo estabelecido pela Anatel, considerado curto e incompatível com o nível de complexidade exigido para adequar seus sistemas. A conversa da Anatel com as operadoras continua, com base nas normas que serão aplicadas em 2015 e 2016, mas muitas regras para facilitar a vida de clientes estão confirmadas.

Além do cancelamento automático, um dos destaques é a nova regra para a validade dos créditos dos celulares pré-pagos: a Anatel definiu que todas as recargas terão validade mínima de 30 dias. Atualmente, são oferecidos créditos com períodos de validade inferior, o que, segundo a agência, confunde o consumidor. A presidente da Associação Brasileira de Procons, Gisela Carmona Feitosa, considera que um entrave à aplicação do Regulamento Geral de Direitos do Consumidor (RGC) será a fiscalização, considerada deficitária.

– O setor vende mais do que pode entregar em qualidade no atendimento e os padrões exigidos pela Anatel são baixos – critica Gisela.



domingo, 6 de julho de 2014

A DROGA DA OPINIÃO


ZERO HORA 06 de julho de 2014 | N° 17851


ISMAEL CANEPPELE




Quase um século depois de ser festejada na Semana de Arte Moderna, a antropofagia talvez hoje comece a acontecer de forma espontânea. Não apenas comer informação, mas, principalmente, vomitar opinião, parece ser a regra dos tempos modernos. Hoje, a opinião nos define.

Políticas econômicas recentes tratam de tornar acessíveis à maioria da população uma série de novas tecnologias que não apenas recebem, mas também difundem informação. Tablets, smartphones e computadores nunca estiveram tão ao alcance das nossas mãos. A web 2.0, essa rede que permite tanto receber quanto difundir conteúdo, cobra posicionamento. O que você pensa sobre?

Cada vez mais incapazes de interpretar o acontecimento por conta própria ou de isolar o fato em si, permitindo que ele simplesmente seja, sofremos uma constante necessidade de provar se o acontecido é bom ou ruim, se é certo ou errado, se seguro ou arriscado. Perdido na exclusão advinda do “ou”, acabamos por não atentar ao somatório de “e”s que constitui o tempo presente. O contemporâneo é plural. É bom e ruim, é certo e errado, é seguro e arriscado.

Misturamos real e virtual. Brigamos na internet. Desfazemos amizades. Bloqueamos contatos. Tudo por conta de opiniões que precisam não apenas ser emitidas, mas aceitas como verdade. Como a única verdade. A nossa própria. Vivemos um tempo de exclusão do diferente. Surdos, escutamos apenas a voz do igual.

Nesse contexto onde o que você pensa sobre o fato é tão ou mais importante do que o fato em si, as mídias convencionais parecem agonizar. Interessante notar como certos profissionais de televisão e de grandes jornais e revistas tendem a uma visão bastante negativa sobre essas novas tecnologias. Já experimentaram o prazer tirânico que as mídias do passado lhes conferiam. Suas opiniões, antes incontestáveis, hoje são postas à prova nas redes sociais. São profissionais que, perdendo o bonde da história, menosprezam a novidade.

Pouco a pouco, o público aprende a duvidar dos veículos de informação que dependem da publicidade para continuar existindo. Sabe não existir investimento sem interesse. Quando a mídia que você consome exibe a logomarca de um patrocinador, é provável que haverá alguém lucrando por você pensar da forma como pensa. O público antigo, esse que aprendeu a acreditar na mídia patrocinada, que respeita cegamente a opinião endossada por conglomerados privados de comunicação, vive hoje uma estranha síndrome de Bela Adormecida às avessas. Acordou não para o príncipe, mas para o sapo. Precisa aprender a pensar por conta própria. A não acreditar nas opiniões que, assim como o funk, também vivem a sua fase de maior ostentação.

A popularização das novas tecnologias nos coloca nesse perigoso lugar de produtores de ideia. Enquanto antes da internet a informação se limitava a ser consumida, hoje ela deve ser vomitada. Ou enfiada goela abaixo. Opinião pode não ser álcool, mas, assim como qualquer outra droga, deve sempre ser usada com moderação.

sábado, 5 de julho de 2014

MANIPULADOS PELA INTERNET

COMPORTAMENTO
REVISTA ISTO É N° Edição: 2328 | 05.Jul.14


Pesquisa de universidades americanas provou que é possível manejar as emoções das pessoas no Facebook. Saiba como as ferramentas digitais podem disseminar conceitos na rede e influenciar as eleições e os negócios

Helena Borges e Raul Montenegro 




Em 2004, aos 19 anos, o então estudante universitário Mark Zuckerberg contou a um amigo, por meio de mensagens privadas, o que pensava dos usuários de seu novo site, TheFacebook.com, para o qual forneciam dados pessoais:
– Se você precisar de informações sobre qualquer um de Harvard, me pergunte. Tenho mais de quatro mil e-mails, endereços e fotos.
– Como você conseguiu isso? – perguntou o colega.
– Eles confiam em mim. Estúpidos.

Hoje, dez anos depois, o Facebook perdeu o “The” e se tornou a principal rede social do planeta, com 1,3 bilhão de usuários. Zuckerberg ficou US$ 29 bilhões mais rico e se desculpou pelo que disse na juventude. O que não mudou foi o fato de que as pessoas continuam confiando dados pessoais a ele. Na semana passada, tanta confiança foi posta em xeque. O mundo descobriu que 689 mil usuários da versão em inglês do site foram cobaias, sem saber, de uma pesquisa feita pelo Facebook em conjunto com pesquisadores das universidades de Cornell e da Califórnia, ambas americanas. Nela, os cientistas manipularam o feed de notícias (a tela inicial, em que aparecem as publicações de amigos e páginas de interesse) e conseguiram provar ser possível manejar as emoções das pessoas, criando um “contágio emocional”. Para uma parte dos selecionados, o número habitual de publicações negativas em seu feed foi reduzido em 10%. Para outros, essa mesma diminuição ocorreu nos posts positivos. Quem era exposto a informações mais negativas passava a publicar material mais pessimista na rede. O mesmo mecanismo acontecia com quem tinha acesso a informações mais positivas.



A revelação gerou duras críticas à rede social, além de preocupação com o poder excessivo nas mãos da empresa de Zuckerberg. Afinal, ela pode ser usada para deixar internautas mais receptivos a determinados produtos e ideias e até impactar eleições. Ou seja, dos negócios à política, tudo pode ser manipulado. O experimento deixou explícita a vulnerabilidade de quem navega pela web ao mostrar o quanto somos influenciáveis. “É a mesma mecânica do mundo offline, só que a rede amplifica e potencializa as coisas”, afirma a psicóloga Beatriz Breves, especialista em internet e sentimentos. Nossos interesses há muito já são manejados por outros gigantes da tecnologia, como Google, Yahoo!, Amazon e Apple. Essas empresas orientam nossas compras e até as notícias que leremos a partir do nosso comportamento online. Quem adquire um disco no iTunes ou um livro na Amazon logo recebe sugestões de outros produtos com o mesmo perfil. Da mesma forma, Google e Yahoo! reconhecem o tipo de informação buscada pela pessoa na internet e, com esse dado em mãos, direcionam notícias e publicidade.

O episódio trouxe à memória o caso Edward Snowden. O ex-técnico da CIA revelou detalhes de programas de vigilância usados pela Agência Nacional de Segurança americana para espionar a população a partir de dados de ligações telefônicas de milhões de americanos e acesso a fotos, e-mails e videoconferências de internautas conectados ao Google, Apple, Facebook e Skype. Outros países, inclusive o Brasil, também foram bisbilhotados. Por isso, cabe o questionamento sobre o uso político – explícito ou secreto – que é possível ser feito das redes sociais. Clay Johnson, que dirigiu a campanha digital de Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos, classificou o experimento de “assustador”. “Poderia a CIA incitar uma revolução no Sudão pressionando o Facebook a promover descontentamento?”, questionou. No Reino Unido, uma comissão subordinada ao parlamento e ao Ministério da Justiça está investigando se a companhia quebrou as leis de proteção de dados do país.


PODER
Mark Zuckerberg: a rede social idealizada por ele tem 1,3 bilhão
de usuários e é a mais popular do planeta

No Brasil, esta será a primeira campanha presidencial em que a internet deverá ter um peso significativo. “Ninguém tem mais dúvida da força das redes sociais”, diz Marcelo Branco, que coordenou a área digital da campanha da presidenta Dilma Rousseff em 2010. “As manifestações de junho de 2013 provaram que é possível viralizar a indignação coletiva e essa pesquisa manipulou a opinião pública.” Num estudo feito durante os protestos dos indignados na Espanha, foi constatado que a comunicação via Facebook tem quatro vezes mais carga emocional do que as notícias normais. Ou seja, vai ganhar quem conseguir captar melhor o espírito da rede.

Branco afirma que as mídias sociais podem desequilibrar eleições se relacionarem comentários negativos a um candidato e positivos a outro. Como as pessoas estão desconfiadas das instituições, o peso da opinião dos amigos pode ser fundamental para a definição do voto, por isso, a manipulação desse espaço de debates fere a democracia. “O que aparece na minha timeline depende de um algoritmo (sequências numéricas que levam a soluções de problemas) que junta vários fatores, inclusive pagamento. O Facebook não é confiável porque poderá turbinar quem está pagando mais para aparecer”, argumenta. Ele aposta que as campanhas daqui para a frente deverão se basear muito mais nos relacionamentos pessoais do que em sites oficiais. “Notícias de qualidade feitas por uma agência central ainda vão ser necessárias. Mas é mais importante valorizar o conteúdo dos colaboradores”, afirma. Agora, antes de a campanha começar na tevê, é a hora de fortalecer os argumentos a favor e contra cada candidatura. O uso de robôs virtuais que disparam milhares de mensagens (muitas delas mentirosas) na internet para influenciar mecanismos de busca e formar um clima de opinião é visto por Branco com reservas: “Os chamados bots podem pesar um pouco, mas o grande enganado é o cliente que pensa que muitas pessoas estão repercutindo um assunto, quando na verdade essas pessoas não existem”.



A verdadeira finalidade da análise de dados pessoais nas redes, porém, é criar publicidade. “O Facebook usou a credibilidade da ciência para convencer seus clientes de que possui um poderoso instrumento de vendas”, diz Luiz Claudio Martino, especialista em comunicação da Universidade de Brasília. Os anúncios na rede social foram desenvolvidos exatamente para fazer parte da experiência de uso. A estratégia é integrar as ofertas aos demais conteúdos, criando um contexto social nas propagandas, como quando nos informa que há uma conexão entre os amigos e a marca. “Toda vez que se criar um canal com acesso a milhares de pes-soas, alguém vai transformar esse tipo de comunicação em dinheiro. Essa é apenas uma nova forma de publicidade”, afirma Dorie Clark, estrategista de marketing e professora da Universidade de Duke. Os verdadeiros clientes do Facebook são os anunciantes. Em 2013, a empresa bateu seu recorde de receita, US$ 7,87 bilhões, 89% vindos diretamente da publicidade.

É possível ou patrocinar ou promover uma página e até comprar “curtidas”. Existem mais de 30 agências de marketing espalhadas pelo mundo que fazem o elo com os anunciantes. Algumas empresas pagam diretamente à companhia. Dentro da rede social, há uma plataforma que serve como menu. O cliente escolhe o que quer, informa o preço máximo que está disposto a pagar e seu orçamento. Ele pode especificar o público a ser atingido a partir de fatores como idade, localização, sexo, educação e interesses pessoais. O Facebook apenas dá alguns conselhos na hora de criar a propaganda. Anúncios e histórias patrocinadas no feed de notícias, por exemplo, não devem ter mais de 20% do espaço ocupado por texto, pode-se usar até seis imagens diferentes para criar variedade e um termômetro informa se o público definido é muito amplo ou restrito demais.



Como os gigantes da tecnologia conseguem “entender” o internauta? A resposta está em algoritmos cada vez mais sofisticados. “Existe uma série deles relacionados à análise de palavras, de sentimentos e de contextos. Servem exatamente para identificar assunto e temas principais dentro de um determinado texto”, diz o especialista em análise de dados, Thoran Rodrigues, CEO da Big Data Corp. “Em uma fração de segundos, ele faz toda a leitura e análise.” Os usuários do Facebook podem nem perceber, mas o feed de notícias já edita as publicações. Para realizar o estudo, os pesquisadores incluíram um critério a mais na seleção de informações recebidas. Antes de ir para a página, os dados foram analisados por dois softwares que escaneavam as palavras e lhes davam pontos positivos ou negativos, como uma nota de otimismo. Empresas de tecnologia fazem experimentos com seus clientes a todo momento. Google, Microsoft ou Yahoo! modificam com frequência a interface de seus sites para pequenos grupos e analisam as respostas com o objetivo de criar experiências de uso cada vez mais agradáveis. Obviamente, eles fazem isso em busca de mais cliques, mais visualizações e, consequentemente, mais lucro.

Monitorando o comportamento de cada pessoa na rede, os engenheiros conseguiram montar um sistema em que a máquina acompanha e aprende com cada movimento dos usuários, tudo atualizado em tempo real, para poder então fazer previsões sobre as próximas ações das pessoas. “Dependendo do serviço que você está usando, o rastreamento vai ser diferente”, explica Rodrigues. “O Google usa o histórico de pesquisas, o Gmail escaneia seu e-mail e analisa as palavras de cada mensagem e dos documentos anexados. A ideia básica por trás do algoritmo é entender seu comportamento na plataforma e, de acordo com o que você faz, buscar coisas que te interessam.” De acordo com especialistas, vivemos hoje numa economia de intrusão. “Companhias como o Facebook e o Google acumulam dados sobre nosso perfil e até sobre nossos sentimentos e os vendem a outras empresas”, diz o sociólogo Sérgio Amadeu da Silveira, um dos pais do Marco Civil da internet.


INDICAÇÃO
Jeff Bezos, da Amazon: quem compra um produto na loja virtual
logo recebe sugestões de outros itens afins para comprar

O Facebook tenta agora se explicar com seus usuários. Adam Kramer, cientista de dados do site e um dos responsáveis pelo experimento, afirmou que o trabalho procurava derrubar o mito de que ver posts positivos deixava as pessoas depressivas ou se sentindo excluídas de uma espécie de “clube da felicidade” existente nas mídias de relacionamento. Também disse que a empresa queria saber se usuários deixariam de usar a rede social caso seus feeds fossem muito negativos. Logo depois, a diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, desculpou-se pelo modo como ele foi divulgado: “Isso era parte de uma pesquisa para testar diferentes produtos, mas foi mal comunicado”.

Na realidade, em janeiro de 2012, quando o experimento foi feito, o Termo de Uso que todos são obrigados a aceitar para entrar no Facebook não mencionava a realização de estudos com usuários. Uma cláusula prevendo essa possibilidade só foi incluída quatro meses depois. Nos EUA, onde a lei é mais permissiva nesse aspecto, o argumento contratual teria boas chances de ser aceito. No Brasil, entretanto, mesmo que a informação sobre a pesquisa estivesse presente no documento, a situação seria outra. “A legislação aqui protege mais o cidadão de abusos nos termos de uso. O consumidor é considerado vulnerável porque não faz as normas, só tem a alternativa de aceitá-las ou de ficar de fora do progresso tecnológico”, afirma Luiz Fernando Moncau, do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro. O fato de as pessoas não terem sido advertidas de que participariam de um estudo levanta ainda outras questões. “Toda pesquisa científica com seres humanos precisa ser submetida a um comitê de ética”, diz Cesar Galera, professor de metodologia científica da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto. Isso também não ocorreu.


CONTROLE
Larry Page (acima) e Sergey Brin, donos do Google:
histórico de pesquisas detecta interesse do internauta



Há um universo de possibilidades para quem quer vender produtos ou influenciar pessoas na internet. Como se defender desse voraz mercado? O usuário deve sempre se lembrar que, em última instância, é ele quem fornece as informações para os sites. Os especialistas recomendam ainda o uso de programas que protegem dados de navegação (leia quadro ao lado) e a aprovação de leis que encontrem um balanço entre a nova economia digital e a privacidade de dados pessoais. “Existe uma metáfora que diz que informação é como radioatividade. A radioatividade está presente em tudo, o problema é quando está concentrada. Do mesmo modo, informações esparsas não são graves, o perigo é quando todas elas estão num lugar só”, alerta Silveira.



Fotos: Justin Sullivan/Getty Images/AFP, Spencer Platt/Getty Images/AFP; David Paul Morris/Bloomberg via Getty Images; Dimitrios Kambouris/Getty Images

quinta-feira, 3 de julho de 2014

O MTST E A REPÚBLICA

FOLHA.COM 03/07/2014 02h00


José Police Neto



Em uma passagem marcante de "Os Sertões", Euclides da Cunha destaca que a pregação em Canudos em relação à República não era uma posição ideológica ou política, mas a incapacidade de multidões, excluídas dos direitos sociais e do processo político, de se enxergarem no conceito abstrato da coisa pública.

Passado mais de um século, Canudos ressurge justamente quando Guilherme Boulos, a liderança-celebridade do MTST, vai à Câmara Municipal e à imprensa para afirmar que "nem a pau" seus liderados se submeterão às regras da fila de inscrição dos programas públicos de moradia e aos processos republicanos determinados em lei para definir quem será atendido.

Até a semana passada, o MTST defendia com unhas e dentes que fosse dado à Construtora Viver, proprietária da área ocupada em Itaquera, na zona leste de São Paulo conhecida como Copa do Povo, o enorme benefício econômico da valorização do terreno por meio da mudança de zoneamento.

Boulos fere o Plano Diretor projetado por quem o apoia ao ignorar um de seus conceitos-base: o de moradia popular perto do trabalho, dos serviços e dos corredores de transporte público –de preferência, em áreas centrais. Ignora que, com esse foco, a prefeitura resgatou –quiçá com novo nome– o programa Renova Centro, lançado na gestão Gilberto Kassab, que previa desapropriar mais de 50 prédios desocupados para moradia popular.

O preço da minha insistência em seguir as normas legais foi enorme. Houve tentativa de atear fogo a um boneco meu, e a cidade foi coberta com caros cartazes em papel de alta qualidade destinados a difamar meu nome. Fui atacado de todas as formas. Optei por suportar o peso do insulto a curvar-me, como os demais, a um líder que desconhece as leis e a minha trajetória política, dedicada ao direito à moradia popular e à construção de uma cidade justa.

Ironia da história, coube justamente a mim –o parlamentar vilipendiado por ser um dos poucos a não se curvar ao MTST– oferecer a formulação legal que permitirá a solução do problema de forma republicana. O projeto de lei de 2011 sobre retrofit social, de minha autoria, que prevê que edifícios abandonados ou subutilizados sejam transformados em habitação social, recebeu um artigo que garante a construção de moradias populares no terreno de Itaquera.

Em momento algum a virulência do ataque difamatório do MTST à minha história pesou contra a decisão de resolver o impasse. O homem público de que a República precisa toma decisões à luz da razão e da busca pelo que é melhor para a cidade.

Na última sexta-feira, quando tudo parecia resolvido, mais uma vez a liderança-celebridade do MTST tentou impor uma cláusula ao projeto permitindo ao movimento "furar a fila" da moradia. Boulos só baixou a guarda ao saber que a Justiça iria anular a eficácia da medida, caso houvesse chance para tal malandragem, por ser esta uma flagrante irregularidade. Finalmente, vereadores aprovaram submeter a decisão da demanda às normas legais e ao foro apropriado, o Conselho Municipal de Habitação.

O processo de aprovação da Copa do Povo, tal como foi construído, mostra que, ao contrário do que pregava Antônio Conselheiro em Canudos, a multidão é capaz, sim, de se inserir nas normas republicanas. O que aprovamos não foi a Copa do Povo do Boulos, mas a Copa do Povo Brasileiro.

JOSÉ POLICE NETO, 41, é vereador (PSD) e membro da Comissão de Política Urbana da Câmara Municipal de São Paulo. É autor da Lei municipal da Função Social da Propriedade

*

E PORQUE NÃO DISSEMOS NADA...



Na primeira noite, eles se aproximam
e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem,
pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles, entra
sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.


Majakovski

quarta-feira, 2 de julho de 2014

RETRATO DE UM TEMPO NUMA CANÇÃO

REVISTA VEJA 30/06/2014 às 15:37

BLOG REINALDO AZEVEDO




O cantor, compositor e colunista Lobão: retrato de um tempo numa canção

Vamos lá. O cantor e compositor Lobão, também colunista da VEJA, é um dos nove “malditos” que foram parar na lista negra do PT, assinada por Alberto Cantalice, vice-presidente do partido, divulgada no site oficial da legenda e propagada pelos blogs sujos, financiados por estatais. É a verticalização da infâmia, que os fascistoides costumam promover quando chegam ao poder: o estado, o partido e as milícias atuam como ordem unida. Só para lembrar: os outros oito da lista somos eu, Augusto Nunes, Diogo Mainardi, Demétrio Magnoli, Arnaldo Jabor, Guilherme Fiuza, Marcelo Madureira e Danilo Gentilli. Essa é apenas a fornada inicial do nacional-socialismo petista. Se o partido vencer a eleição, certamente a lista será ampliada. A “Repórteres Sem Fronteiras”, a mais importante entidade internacional de defesa da independência jornalística, expressou o seu repúdio. Janio de Freitas, por sua vez, preferiu repudiar a… “Repórteres Sem Fronteiras”. Entenderam?

Adiante! Lobão fez uma música retratando, digamos assim, a alma profunda dos “companheiros” e evidenciando o espírito destes tempos. Chama-se “A Marcha dos Infames”. Ouçam e divulguem. Na sequência, publico a letra e um breve comentário a respeito.



A MARCHA DOS INFAMES

Aqueles que não são
E que jamais serão
Abusam do Poder,
Demência e obsessão.

Insistem em atacar
Com as chagas abertas do rancor,
E aos incautos fazer crer
Que seu ódio no peito é amor

Tanto martírio em vão,
Estupro da nação,
Até quando esse sonho ruim,
esse pesadelo sem fim?

Apedrejando irmãos
E os que não são iguais,
A destruição é a fé,
E a morte e a vida, banais.

E um céu sem esperança,
A Infâmia cobriu,
Com o manto da ignorância,
O desastre que nos pariu.

E o sangue dos ladrões
De outros carnavais
Na veia de vilões,
tratados como heróis.

E até quando ouvir
Cretinos e boçais
Mentir, mentir, mentir,
Eternamente mentir?

Mas o dia chegará
Em que o chão da Pátria irá tremer,
E o que não é não mais será
Em nome do povo, o Poder.

Retomo

Adequando o comentário a estes dias, gol de placa de Lobão, na letra e na melodia! Reparem que o autor recorre a uma marcha propriamente, de caráter marcial mesmo, evidenciando o espírito da soldadesca sem uniforme do petismo — afinal, essa gente é uniformizada por dentro, não é mesmo?

Na letra — que, é claro!, faz uma denúncia da maior gravidade —, Lobão apela a um tom a um só tempo grandiloquente e meio farsesco, como a evidenciar a truculência cafona e vigarista dos fascistoides de plantão.

Há dois trechos que chamam particularmente a minha atenção:

E o sangue dos ladrões
De outros carnavais
Na veia de vilões,
tratados como heróis.

Na mosca! O poder, hoje, no Brasil mistura o sangue do velho patriomonialismo — que forjou ao menos uns dois séculos de atraso — com o do novo patrimonialismo, que pretende liderar o atraso dos séculos vindouros. E gosto particularmente da última estrofe:

Mas o dia chegará
Em que o chão da Pátria irá tremer,
E O-QUE-NÃO-É não mais será
Em nome do povo, o Poder.


Tomei a liberdade de escrever em maiúsculas e usando hífen “O-QUE-NÃO-É”. É preciso que se entendam essas palavras como uma unidade semântica para que se perceba o seu caráter de sujeito do verbo “será”. “O-QUE-NÃO-É” dispensa predicativos; trata-se do falso, do engodo, da trapaça histórica, da vigarice, da mentira em si.

Divulguem por todos os meios a música de Lobão. Aí está o retrato de uma era. É uma canção de protesto destes tempos. Afinal, os “protestadores” de carteirinha do passado — Chico & Seus Miquinhos Amestrados” — estão calados diante de listas negras. Eles criavam metáforas contra a ditadura militar no passado não porque fossem, por princípio, contra ditaduras e perseguições. Opunham-se àquela ditadura em particular, mas não a outras. E julgavam que o regime não podia perseguir “as pessoas erradas”. Quando persegue “as certas”, tudo bem!

Não por acaso, nunca se opuseram à ditadura cubana. No fim das contas, foi Cuba que os pariu. A música de Lobão expõe farsantes do presente e do passado.


Por Reinaldo Azevedo

terça-feira, 1 de julho de 2014

NACIONALISTAS EM FÚRIA


ZERO HORA 01 de julho de 2014 | N° 17846


DAVID COIMBRA


Você prestou atenção nos alemães cantando o hino?

Devia ter prestado.

Há uma guerra de hinos nesta Copa. Os brasileiros cantam o hino a capela, os chilenos querem fazer o mesmo e os brasileiros não deixam. Os jogadores do Brasil não cantam o hino; berram-no, em especial o zagueiro David Luiz, imbuído de um fervor patriótico meio assustador. Teve uma menina de 12 anos que, perfilada em frente aos jogadores, gritou tão desvairadamente o hino que impressionou o capitão Thiago Silva, a ponto de ele postar numa rede social que aquilo, sim, era prova de amor à pátria.

Os franceses também fazem todos se arrepiar com a Marselhesa, assim como os ingleses com o God Save The Queen. Os americanos entoam seu hino fazendo continência, como se fossem soldados. Vi, pela TV, gente chorando na execução do hino de seu país.

Mas os alemães, não. Os alemães cantam discretamente seu hino nacional e vão para o jogo sem palpitações ufanistas. Você, que conhece um pouco de História, me diga: você sentiria medo, se os alemães cantassem o hino como David Luiz?

Decerto que sim.

Só que os alemães têm farta consciência dos efeitos do nacionalismo. Então, eles são moderados.

O curioso é que poucos países da Copa, na verdade poucos países do mundo respeitam seu cidadão como a Alemanha. Os alemães são bem cuidados pela Alemanha, e cuidam bem da Alemanha. Sem ardores, sem paixões alucinadas, sem achar que se ganha no grito.