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quarta-feira, 30 de abril de 2014

SOMOS TODOS MACACOS?


ZERO HORA 30 de abril de 2014 | N° 17779


ARTIGOS

 por DEIVISON CAMPOS*



Não. O ato de Daniel Alves no jogo contra o Villarreal pode ser considerado um enfrentamento ao racismo. Ao juntar a banana e comê-la, desconstruiu ao vivo o ato racista frente a milhões de pessoas que assistiam ao jogo. Concluiu lembrando através das redes sociais que o alimento lhe deu energia para o jogo, considerando ser um alimento utilizado por atletas. Quem não lembra, por exemplo, das paradas estratégicas de Guga Kuerten. No entanto, assumir que somos todos macacos autoriza que as iniciativas de jogar bananas no gramado e imitar o som de animais prossigam. Não somos macacos. Ninguém é. Somos humanos, mesmo sem todos os direitos.

O argumento utilizado pela campanha lançada por Neymar, proposto por uma agência de publicidade, e que teve grande repercussão nas redes não é suficiente, pois, neste caso, não se trata de um apelido que pode “pegar ou não”. Trata-se da manutenção de um discurso de desumanização do negro, iniciado há quase 600 anos por pressupostos evolucionistas.

Apesar de o evolucionismo natural e depois social ter sido sistematizado como conhecimento científico na segunda metade do século 19, por Darwin e Spencer, sucessivamente, a escala de superioridade de civilizações, em função da cor da pele, principalmente, sustentou todo o tráfico escravista. Grosso modo, inicialmente, os negros foram apontados pela Igreja como sem alma e os índios como crianças que precisavam ser civilizadas. Depois, os negros foram mantidos como bens móveis, assim como os animais de fazenda. Nesse processo, os europeus colocaram-se acima dos outros povos, encontrando discursivamente argumento para sobrepujá-los cultural e fisicamente.

Essas lógicas foram assumidas na constituição do Brasil como nação e, apesar de nos definirmos como o país das três raças e exemplo de democracia racial, mantidas na estrutura social até nossos dias. Todos os índices socioeconômicos comprovam essa afirmação. A luta pelo direito à cidadania passa efetivamente pela derrubada desses estereótipos e não pelo seu reforço. Sabe-se que historicamente o deslizamento de sentidos de expressões, como “negro”, funcionou como estratégia de positivar um discurso negativo. No entanto, a imagem do macaco não tem como ser positivada, mesmo que assumida, pois o símio nunca será humano.

Comparar ao macaco, em cantos, bananas jogadas ou onomatopeias, não se trata somente de uma comparação em função da cor da pele, ou mesmo pela origem continental, trata-se de uma estratégia que mantém os negros como desumanizados, ou seja, incapazes de atender às demandas da chamada civilização ocidental, principalmente no atual desenvolvimento do capitalismo que exclui. Apesar de não dito, essa relação de saber-poder mantém os privilégios de poucos. Assumir é congelar essa imagem. Não. Não somos macacos. Somos humanos.

*Professor de Jornalismo da Ulbra, doutor em Ciências da Comunicação

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