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domingo, 19 de janeiro de 2014

AS NOSSA BOLHAS



ZERO HORA 19 de janeiro de 2014 | N° 17678

ARTIGOS

Moisés Mendes*



São muitos e variados os analistas do mundo virtual. Gente que lida com tecnologia acaba por tentar entender também de comportamentos. Explicam quase tudo o que você deve saber das redes sociais, do perfil de quem está no Facebook e do público que vai consumir a novidade do mês que vem.

Mas estão escassos os que vão além do chute e oferecem a compreensão de coisas do mundo real com a mesma capacidade de convencimento dos analistas do mundo virtual. Sei, você vai dizer que é tudo a mesma coisa, porque (eureka) são as pessoas que fazem o mundo virtual. Pois então por que os rolezinhos causam tanto estranhamento?

Os jovens das periferias invadem shoppings para zoar. Circulam pelos corredores, se beijam, cantam, revoam. Inquietam, assustam, constrangem e também, claro, entusiasmam quem enxerga o início de um fenômeno social com potencial transformador.

Você sabe que o mundo virtual, como mercado, tem bons analistas. O gaúcho Ricardo Cappra, especialista em comunicação digital, trabalhou para as campanhas eleitorais de Obama nos Estados Unidos. Fazia a abordagem do público das redes sociais, para vender o então discurso inovador de Obama. Cappra conta, com comovente franqueza, que usou as mesmas táticas que usaria para vender um produto ou uma marca. Obama ou Gatorade podem ser vendidos com os mesmos métodos.

Cappra é estrela mundial nesse mundo virtual e não vê diferença entre promover um energético ou um candidato. E ajudou a eleger Obama, mesmo que, confessadamente, não goste de política. O que importa é que seu trabalho foi eficiente.

Agora, inverta as abordagens. Como entender a gurizada do rolezinho, quando ela deixa de ser apenas um mercado que consome marcas, serviços e políticos e passa a emitir, fora do Facebook, ao vivo, mensagens mais complexas? Em que língua esse pessoal está falando?

É sabido que as turmas das periferias que fazem zoeira em shoppings não são homogêneas e estiveram fora dos protestos de junho. Alguns reproduzem comportamentos consumistas, há os que combatem esse consumismo, outro grupo politiza as manifestações (são pobres e negros afrontando as “elites” brancas). E há quem queira apenas zoar, namorar, beijar.

Nós todos, eu, você, seu vizinho, os sociólogos, antropólogos, cientistas políticos, jornalistas e chutadores em geral estamos aqui, cada um na sua bolha, tentando entender a zoeira. Nós, que fazemos sempre os mesmos trajetos, que não conhecemos o outro lado da cidade, que nunca vamos às periferias, nos protegemos nas convicções das nossas ignorâncias.

A reação conservadora é forte e provoca o contraponto dos que vislumbram no rolezinho as primeiras lavas de um vulcão. Os observadores dizem coisas meio óbvias como: os adolescentes não querem só comida, querem compartilhar melhor os espaços públicos, mais pracinhas, escolas e ônibus limpos e bonitos, creches para os irmãos, ciclovias, calçadas e postos de saúde brancos como os das propagandas.

Enfim, os jovens da periferia devem estar se divertindo com a confusão que causam, não só nos shoppings, mas em nossas cabeças. Eles podem estar, por enquanto, tentando furar as nossas bolhas.


*JORNALISTA

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