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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

QUEM TEM MEDO DO LIVRO BRANCO


Matias Spektor, FOLHA.COM, 13/02/2012 - 07h00


O governo finaliza agora seu Livro Branco de Defesa Nacional, onde se apresentam os conceitos e princípios estratégicos que o país gostaria de emplacar durante os próximos anos.

O principal impacto da publicação não será sentido no país, mas no exterior. Tanto países amigos quanto outros mais distantes acreditam que um Brasil em ascensão está fadado a ampliar seu perímetro de interesses em defesa e segurança. Para eles, o crescimento da economia e da classe média levará, inexoravelmente, à expansão das ambições nacionais porque nenhum governo poderá ignorar as ameaças ao número crescente de interesses brasileiros no mundo.

Por isso, eles receberão o Livro Branco com um misto de curiosidade e apreensão. Não adianta acalmar seus ânimos citando nosso histórico de pacifismo nem evidenciando a falta de meios que assola nossas forças armadas. As suspeitas sobre o futuro da força militar brasileira estão aqui para ficar.

Os vizinhos amazônicos lerão o texto com o anseio de quem teme incursões veladas de forças brasileiras em seus territórios para punir guerrilhas ou narcotraficantes que violam nossas fronteiras.

Bolívia e Paraguai temem possíveis soluções forçadas caso haja problemas em temas como gás, água, soja, eletricidade e o bem-estar de brasileiros emigrados.

Na Argentina, o maior problema diz respeito à recente retomada do programa nuclear brasileiro. O assunto, que parecia estar encerrado, poderá dividir os dois países uma vez mais.

Na África, o Livro Branco será recebido por governos interessados em cooperação militar tanto quanto por aqueles que tiveram notícias das frases ditas publicamente por autoridades militares brasileiras no passado recente, como "o Atlântico Sul é um lago brasileiro" ou "nossa fronteira leste termina nas praias africanas".

O impacto não se limita apenas a países mais fracos.

Na China e na Índia, o texto será lido de olho no pensamento da Marinha a respeito da "Amazônia Azul". Afinal de contas, aqueles países ampliam a passo acelerado sua projeção naval e sua competição no Atlântico.

Nos Estados Unidos, o livro chegará às mãos de quem gostaria de ver um Brasil mais armado para lidar com o narcotráfico ao passo em que lamenta o ritmo lento de uma cooperação militar ainda pouco explorada.

Na Europa, a publicação vai ocupar aqueles que querem criar um forte órgão multilateral de segurança no Atlântico Sul, idéia antiga contra a qual o Brasil operou em diversas ocasiões ao longo dos últimos cinqüenta anos.

O Livro Branco também chegará aos conselhos executivos da indústria global de armamentos, que observa com atenção a entrada de conglomerados como Embraer e Odebrecht num mercado muito competitivo.

É líquido e certo que o texto, ao circular, terá conseqüências não planejadas nem desejadas. A maneira inteligente de lidar com isso é criar políticas capazes de mitigar os medos que sua leitura vai acirrar.

Em relações internacionais, as intenções reais de um país nunca são perfeitamente compreendidas por terceiros. Como os governos sempre atuam com base em percepções a respeito dos outros, países emergentes precisam ser extremamente cuidadosos na hora de comunicar seus planos.

Para o Brasil, a prioridade é evitar que o processo de ascensão gere resistência e incômodo na área de segurança e defesa. O lançamento do Livro Branco demanda, como acompanhamento, uma política inédita de comunicação global.


Matias Spektor ensina relações internacionais na FGV. É autor de "Kissinger e o Brasil e de Azeredo da Silveira: um depoimento". Trabalhou para as Nações Unidas antes de completar seu doutorado na Universidade de Oxford, no Reino Unido. Foi pesquisador visitante no Council on Foreign Relations (Estados Unidos) e assina uma coluna no "International Herald Tribune".

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