Revelamos aqui as causas e efeitos da insegurança pública e jurídica no Brasil, propondo uma ampla mobilização na defesa da liberdade, democracia, federalismo, moralidade, probidade, civismo, cidadania e supremacia do interesse público, exigindo uma Constituição enxuta; Leis rigorosas; Segurança jurídica e judiciária; Justiça coativa; Reforma política, Zelo do erário; Execução penal digna; Poderes harmônicos e comprometidos; e Sistema de Justiça Criminal eficiente na preservação da Ordem Pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

domingo, 9 de outubro de 2011

SOMOS TODOS IGUAIS

WANDERLEY SOARES, REDE PAMPA, O SUL, Porto Alegre, Domingo, 09 de Outubro de 2011.

O homem pobre, ao adquirir uma casa, está próximo de adquirir um túmulo

As angústias, a solidão dos que vivem em estado de miserabilidade são quadros tão insondáveis quanto os de momentos de luxúria daqueles que são tão mais poderosos quanto maior for a aldeia dos marginalizados.

E não só os miseráveis vivem nesse círculo de fogo cuja saída depende de um milagre de um Deus, que até pode não existir, ou de um ato de violência extrema. Os simplesmente pobres têm para si ferros tão fortes quanto os que cercam a aldeia dos miseráveis. Pobres, ainda que não sejam pedintes, que não roubem, que trabalhem, podem apenas sonhar com uma casa sem goteiras, sem furos, mesa farta, crianças na escola, bem vestidas, um vinho ao jantar. Essas conquistas são alcançadas, nem sempre por inteiro, ao final de uma vida toda sob tempestades. O homem pobre, ao adquirir uma casa, está próximo de adquirir um túmulo.

Num óleo, num traço artístico ou mesmo numa foto em preto e branco, que expressa com mais intensidade a realidade dos contrastes entre as luzes e as sombras, há uma terna beleza nos cortiços colados misteriosamente numa ribanceira ou no alto de um morro, nos casebres à beira dos rios, todos construídos por engenheiros e arquitetos, sem diploma, foragidos da fome. Há alguma coisa de estóico nas mulheres e nas crianças a carregar andrajos, lenha, água e nos homens no martelar de mais um puxadinho com pedaços de lata e restos de madeira. Há alguma coisa de lírico quando a noite desce sobre a miséria e a pobreza e, de longe, luzes denunciam almas sobreviventes. Imagina-se lá um boteco, um carteado, uma roda de cachaça, uma linguiça fritando, vultos obscuros tomando o rumo da cidade, um choro de criança sonolenta e faminta.

Os pobres, os simplesmente pobres, mantêm em suas comunidades uma alegria incompreensível para as castas superiores. As festas das pessoas humildes são de uma alegria real, verdadeira, sem os talheres dos cursos de boas maneiras, sem os passos das escolinhas de dança, sem verbas da prefeitura, sem proteção especial da polícia. Elas mostram casas caiadas, outras coloridas, emolduraram retratos nas salas, fazem seus próprios tapetes e nunca deixam de musicar os seus domingos de verão e comer feijoada nos feriados de inverno. Os miseráveis, mesmo presentes no óleo, no traço, na foto em preto e branco, vivem em ambiente surrealista onde não se sabe a diferença entre a latrina e a cozinha, onde a mulher, quando menina, tem sua alma e seu corpo desintegrados, onde o homem, quando criança, se torna inimigo de si mesmo.

No entanto, creiam, há linhas de igualdade entre pobres, miseráveis e poderosos. Todos são suspeitos. Compram ou fazem contrabando, consomem produtos pirateados, praticam pedofilia, alguns, adultério, outros, frequentam, simultaneamente, as paróquias e as terreiras afros, consultam benzedeiras mais do que procuram médicos. Enfim, fora as bandeiras de seu time de futebol, hasteiam na vida todas as outras que lhes derem projeção de algum lucro. Mesmo que os poderosos busquem tornar os pobres em miseráveis e os miseráveis em lixo, um ponto da maior importância os iguala por inteiro. Tal ponto referenda a sentença final: ninguém se tornará poderoso se tiver uma existência casta; ninguém poderá sobreviver na pobreza ou na miséria se nada praticar ao arrepio da lei que lhe for imposta. Somos todos iguais, na vida e no túmulo

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