Revelamos aqui as causas e efeitos da insegurança pública e jurídica no Brasil, propondo uma ampla mobilização na defesa da liberdade, democracia, federalismo, moralidade, probidade, civismo, cidadania e supremacia do interesse público, exigindo uma Constituição enxuta; Leis rigorosas; Segurança jurídica e judiciária; Justiça coativa; Reforma política, Zelo do erário; Execução penal digna; Poderes harmônicos e comprometidos; e Sistema de Justiça Criminal eficiente na preservação da Ordem Pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

domingo, 9 de outubro de 2011

MÉXICO CONFLAGRADO PELA IMPUNIDADE E VIOLÊNCIA DO NARCOTRÁFICO

Onde os jornalistas são alvo. Violência do narcotráfico e impunidade ameaçam repórteres no país considerado o pior para a imprensa nas Américas - ZERO HORA 09/10/2011

De um lado, o México. De outro, os Estados Unidos. Não há outro lugar no mundo em que uns poucos quilômetros sejam tão determinantes para a segurança de uma pessoa como a fronteira entre esses dois países – especialmente a estabelecida entre Ciudad Juárez, considerada uma das mais perigosas cidades do mundo, e El Paso, no Texas, a mais segura entre as localidades americanas com mais de 500 mil habitantes.

A jornalista Judith Torrea vive do lado mexicano. Ciudad Juárez tem 1 milhão de habitantes e mais de 9 mil assassinados nos últimos quatro anos, durante a guerra contra o narcotráfico instaurada pelo presidente Felipe Calderón. É um lugar perigoso para qualquer ser humano, mas sobretudo para uma repórter que, como ela, se dedica a denunciar os efeitos do narcotráfico na sociedade.

– Em Ciudad Juárez o perigo é estar vivo – contou a Zero Hora.

Judith integra um grupo cada vez mais visado no México: os jornalistas. Os Repórteres sem Fronteiras classificam o país como o mais perigoso do continente para os meios de comunicação. Cartéis de drogas, corrupção de autoridades e a impunidade à qual está fadada a maioria dos crimes condenam muitos jornalistas à autocensura, especialmente nos Estados de Chihuahua, Sinaloa, Veracruz e Coahuila. E o medo se alastra, agora, pela região sudeste.

– O que posso dizer a você é que cada vez há mais pressão para não informar, e essa pressão vem das autoridades, dos cartéis e dos jornalistas corruptos – afirma Judith.

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) conta cada jornalistas assassinado no México. Foram nove este ano, além de um desaparecido. O último caso foi o de Marisol Macías Castañeda, do jornal Primera Hora, de Nuevo Laredo, no Estado de Tamaulipas.

– Não sabemos quantos foram assassinados em consequência de seu trabalho e quantos tinham relações com o narcotráfico. Se admitimos que o narcotráfico penetrou em 80% dos setores empresariais do país, na polícia, na Justiça e até na Igreja Católica, não temos por que pensar que algumas redações também não tenham sido contaminadas – afirma Humberto Padgett, que há cinco anos investiga o narcotráfico (leia a entrevista ao lado).

No final de agosto, a Comissão Nacional dos Direitos Humanos calculou em 72 o número de jornalistas assassinados no México desde 2000. Pelo menos mais três foram mortos desde então, aumentando a cifra para 75. A ONG Repórteres sem Fronteiras estima em 82 os mortos no mesmo período.

– Cada vez é mais evidente que o Estado não é capaz de oferecer aos comunicadores as condições de segurança mínimas para exercer seu trabalho – lamentou ao jornal La Jornada Darío Ramírez, diretor da organização Artículo 19, que luta pela liberdade de expressão.

Nascida na Espanha, Judith já trabalhou em Nova York, mas se encantou por um dos lugares mais perigoso do mundo, de onde escreve reportagens para veículos do México e do Exterior e sobre o qual escreveu o livro Juárez en la sombra – Crónicas de una ciudad que se resiste a morir. Apesar do perigo, também conta em um blog (juarezenlasombra.blogspot.com) as histórias que acontecem naquela que aos poucos se transforma em uma cidade-fantasma, com 116 mil casas e 10 mil estabelecimentos comerciais abandonados. E não pensa em deixar de fazê-lo:

– Se fosse médica, estaria salvando os baleados, mas, por desgraça, sou apenas uma jornalista. E os jornalistas contam histórias.

Assassinar um jornalista é um ato que não tem consequências legais”. Humberto Padgett, jornalista mexicano - ROSSANA SILVA

Especializado na cobertura de narcotráfico há cinco anos, o jornalista Humberto Padgett, da revista Emeequis, admite os riscos de seu trabalho. Mas sabe que é fundamental para compreender o México atual. Da capital, Cidade do México, ele conversou por telefone com Zero Hora. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Zero Hora – Por que é perigoso ser jornalista no México?

Humberto Padgett – Porque o problema do narcotráfico e da violência no país está acompanhado da impunidade. Mais de 40 mil pessoas foram assassinadas desde 2006, e 90% desses casos não foram solucionados pela Justiça. Matar uma pessoa no México sai bastante barato em termos de impunidade, em comparação com o tamanho do negócio de que estamos falando. Das mortes de jornalistas desde 2006, nenhuma está realmente resolvida. Assim, assassinar um jornalista, aqui, é um ato que não tem consequências legais. O problema é de impunidade, do grau de violência que os cartéis de narcotráfico impuseram e da pouca proteção que as redações oferecem aos jornalistas.

ZH – Como você se sente fazendo a cobertura de narcotráfico, um assunto tão perigoso?

Padgett – Na Cidade do México estou seguro. Fico exposto quando tenho que sair a campo em lugares que são perigosos não só para jornalistas, mas para todo mundo, locais onde o crime organizado tomou conta das instituições e da vida social.

ZH – Você já vivenciou alguma situação de risco?

Padgett – De maneira direta, não. Estive em risco? Sim, é claro. Em um país onde assassinaram mais de 40 mil pessoas nos últimos anos, é perigoso ser jornalista, açougueiro ou taxista. A matéria-prima sobre a qual trabalho é, definitivamente, delicada. Procuro ser discreto e fazer um trabalho sincero e profundo sobre o que está acontecendo. Há situações em que você sabe que, enquanto está investigando e escrevendo, não vai acontecer nada. Mas você tem de estar consciente do que pode ocorrer. Em algumas redações grandes, decidiu-se manter a cobertura do narcotráfico, mas seus repórteres já não assinam as reportagens.

ZH – Com tanto risco, qual é a motivação dos jornalistas para continuar investigando o narcotráfico no México?

Padgett – Temos de repassar às gerações futuras a situação em que estamos. Há um propósito social. O trabalho com o crime organizado e a violência nos introduz no sofrimento, na dor, na luta e na esperança das pessoas. Fazer jornalismo é incrivelmente enriquecedor, é vital. Isso é o que me empurra. Diferentemente de países como Colômbia e Itália, a sociedade mexicana não tem respondido com indignação à morte de jornalistas. Os jornalistas saíram em passeatas, mas foram eles. Quem sabe isso nos diga algo, que não convencemos as pessoas de que estamos lhes oferecendo a verdade sem compromissos.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Não quero ser alarmista, mas tudo o que está ocorrendo no México, PODE ocorrer no Brasil. As semelhanças de um cenário de insegurança jurídica, desgoverno, descaso parlamentar e justiça leniente podem levar o Brasil às mesmas consequências com o crime tomando conta das ruas, se infiltrando nos poderes e arruinando a paz social e as finanças do país. No Brasil, sob argumentos falaciosos para encobrir violações de direitos humanos, falta de investimentos em presídios e inoperância judicial, a bandidagem está ficando impune e com liberdade de ação e terror. Aumentaram as execuções, os crimes de latrocínio e atos de crueldade, tortura e violência gratuita: as mesmas consequências que estão conflagrando o México.

E por que matam jornalistas? Ora, numa sociedade aterrorizada e amordaça e impotente, só os bravos jornalistas têm a coragem de denunciar, pois esta postura parte do DNA da profissão.

Sem leis, ordem e justiça qualquer nação perece.

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