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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O TOTALITARISMO SE BASEIA NO MEDO


ENTREVISTA. “O totalitarismo se baseia no medo”. Emilio Palacio, jornalista equatoriano exilado em Miami - LÉO GERCHMANN, ZERO HORA 02/09/2011

Faz pouco menos de uma semana, e ele ainda está “se adaptando à nova vida”, uma vida de exilado que sonda as possibilidades de futuro com os filhos em algum lugar seguro. Essa é a situação de Emilio Palacio, ex-editorialista do jornal El Universo, de Guayaquil, o maior do Equador. Palacio foi condenado, com os três diretores do jornal, a passar três anos na prisão e a pagar US$ 40 milhões de multa – US$ 10 milhões cada um. Motivo: teria atacado a honra do presidente Rafael Correa em artigo no qual o chama de ditador e o responsabiliza pelas cinco mortes e 193 feridos resultantes do motim policial em 30 de setembro de 2010. Nesta entrevista a ZH, de Miami, ele volta a definir Correa como ditador. E engasga, emocionado, ao falar da família, de quem mal pôde se despedir. Confira:

Zero Hora – Como estão as coisas aí em Miami?

Emilio Palacio – Adaptando-me a uma nova vida.

ZH – O sr. foi condenado com os proprietários do jornal El Universo e saiu do Equador se dizendo perseguido pelo governo de Correa. O que houve além dessa condenação?

Palacio – Não saí do país somente por causa daquela decisão judicial. Há duas semanas, entraram com outra ação contra mim. O autor é a emissora de TV do governo, a Ecuador TV. É uma outra ação, porque eu disse que o canal do governo é um canal fascista. Mas não é só isso: eu vinha me sentindo sob grave perigo. Na semana passada, o procurador-geral do país me chamou para falar com ele. Queria que eu lhe fornecesse o nome de uma fonte anônima que me deu informações. É uma fonte que nada tem a ver com a ação judicial. Eu tenho o direito constitucional de não revelar o nome. É uma investigação jornalística. Se eu fosse ao encontro com ele e não revelasse o nome da minha fonte, ele iria me prender, sem esperar qualquer condenação.

ZH – Por isso, o sr. deixou o Equador, então?

Palacio – Foi porque me dei conta de que querem me prender antes que o processo se encerre. Vejo nisso uma perseguição muito preocupante. Por que querem me prender antes que termine o processo? Então, saí do Equador.

ZH – Desde quando o sr. se sente perseguido por Correa?

Palacio – Desde 2005, quando ele era ministro da Economia, e eu escrevi um artigo criticando-o. Desde então, ele não se esquece desse artigo. Volta e meia, volta a mencioná-lo, com ressentimento, seis anos depois.

ZH – O sr. ainda está trabalhando para o El Universo?

Palacio – Eu me demiti no dia 7 de julho do jornal. Neste momento, mantenho apenas minha relação cordial com meus ex-colegas e com os diretores da empresa. Não tenho renda em Miami, nem de onde tirar dinheiro, não tenho trabalho. Nada está definido ainda, porque vim para cá repentinamente. Não fiz de maneira planejada. Hoje, eu me reuni com um advogado para definir minhas alternativas. Mas não tomei nenhuma decisão.

ZH – E a perseguição ao jornal?

Palacio – É uma consequência da coragem do jornal e de seus diretores, os três irmãos Pérez.

ZH – Por que o sr. saiu do jornal?

Palacio – Foi uma tentativa de salvar o jornal. Pensei que, assim, o presidente conseguiria um pouco do que queria, que era impedir que eu escreva no jornal. Pensei que ele iria poupar o jornal. No El Universo, trabalham quase mil pessoas, que poderiam ir para a rua.

ZH – Como o sr. define a personalidade do presidente?

Palacio – É um tipo de personalidade que têm os ditadores. Mas, além disso, há um projeto político. Ele tem de demonstrar que ninguém no Equador pode falar no 30 de setembro. É um tema tabu. Todos os documentos oficiais desse episódio foram declarados segredo de Estado. O presidente, para não ser responsabilizado pelas mortes, quer fazer do episódio um não fato. Para isso, a única maneira é impor o medo, destruir os meios de comunicação. Assim funciona o totalitarismo.

ZH – Como o sr. está fazendo para se sustentar?

Palacio – Vim para a casa de parentes, que estão me sustentando. São familiares meus que vivem aqui e que estão me ajudando. Obviamente, não posso ficar na casa deles. Tenho de arranjar um espaço para viver com a minha família, em algum lugar.

ZH – O sr. tem filhos?

Palacio – Tenho dois filhos, uma de 19 anos e outro de sete anos. E tenho minha esposa.

ZH – Eles ficaram no Equador?

Palacio – Sim, mas claro que a intenção da minha família é voltar a se reunir o mais rápido possível.

ZH – Em Miami?

Palacio – Onde for possível.

ZH – Carlos Pérez (diretor do jornal) disse a ZH que Correa valoriza a família, mas não se importa em separar famílias ao querer prender adversários. Como o sr. vê isso?

Palacio – Os ditadores totalitários têm personalidade insensível em relação aos problemas dos seres humanos. A Stalin, a Hitler, a Mussolini, a Duvalier nunca lhes importou a família, os filhos e os sentimentos dos seus opositores. Eles necessitam destruir seres humanos. O totalitarismo se baseia no medo, e a única maneira de reunir suficiente medo é mostrar que nada detém o ditador, nem sequer as coisas mais íntimas, os filhos, o lar.

ZH – Como foi sua despedida da família?

Palacio – Saí correndo. Não deu tempo para uma despedida.


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