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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A GUERRA DO RIO - SEQUESTRO DE ÔNIBUS, TERROR E AÇÃO POLICIAL

Polícia identifica um quarto criminoso suspeito de participar do sequestro de ônibus na Avenida Presidente Vargas, no Centro - O GLOBO, 10/08/2011 às 10h04m - Athos Moura, Jorge Antonio Barros, Laura Antunes, Luiz Ernesto Magalhães, Renata Leite, Sergio Ramalho e Vera Araújo - Com CBN e G1

RIO - A polícia confirmou a participação de um quarto criminoso - e não três, como se supunha inicialmente - no sequestro do ônibus que seguia para Duque de Caxias , na Avenida Presidente Vargas, na noite desta terça-feira. Cinco vítimas e um bandido foram baleados no tiroteio. De acordo com a delegada responsável pelo caso, Gisele Rosemberg, o último integrante da quadrilha já foi identificado por fotos do banco de dados da Polícia Civil. Ele teria passagens por roubo a residências e a coletivos. Um mandado de prisão preventiva foi expedido na manhã desta quarta-feira. Ainda não foi divulgada, no entanto, a identidade, uma fotografia ou um retrato falado do suspeito. Também nesta manhã, profissionais do Instituto de Criminalística Carlo Éboli (ICCE) estão realizando uma perícia complementar no ônibus. Os peritos pretendem fazer uma varredura minuciosa para checar todas as perfurações e vestígios de sangue no coletivo. Até agora, já foram encontradas 16 marcas de balas, sendo a maioria no lado esquerdo do ônibus. Segundo o depoimento de algumas vítimas, nenhum dos bandidos que estavam no ônibus atirou. Os reféns contaram que os disparos foram feitos apenas pelos policiais com o intuito de acertar os pneus.

Os dois bandidos presos no local do crime, após se renderem, foram identificados como Renato da Costa Júnior, de 21 anos, e Bruno Silva Lima, de 19. Um deles já possui passagem pela polícia, e contra o outro havia um mandado de busca e apreensão. Eles podem ser transferidos para a Polinter ainda nesta manhã. A mãe de Renato confirmou que o filho já era envolvido com tráfico e assalto desde os 15 anos na Favela do Jacarezinho. Ela disse que o aconselhou, mas ele resolveu continuar no crime. Chorando muito, a mãe do assaltante, que não quis se identificar, disse que, neste momento, só quer abraçar Renato, dar apoio e aconselhá-lo. Ela confirmou que é a terceira vez que ele é preso.

O terceiro preso foi capturado no início da madrugada desta quarta-feira, quando deu entrada no Hospital São Lucas, em Copacabana. Funcionários da unidade desconfiaram de Jean Júnior da Costa Oliveira, de 21 anos. O paciente deu entrada no hospital com um tiro na perna. Policiais militares do 19º BPM (Copacabana) estiveram no local e prenderam Jean após ele ter sido reconhecido por um dos passageiros do ônibus. O criminoso conseguiu fugir do ônibus assim que o assalto foi anunciado. O bandido fez um passageiro refém até entrar em um carro Zafira, onde estava um casal. Um trio de policiais militares entrou em um Fiesta que havia sido abandonado pelo proprietário e houve perseguição. Jean desembarcou na favela de Manguinhos e seguiu a pé para o interior da comunidade. Os donos do Zafira saíram em disparada em seguida.

A delegada Gisele Rosemberg disse que os depoimentos dos reféns são desencontrados devido ao tamanho do ônibus e à baixa luminosidade. Alguns passageiros disseram que eram apenas três assaltantes, mas outros reféns e o motorista do coletivo foram categóricos ao afirmar que quatro embarcaram. O quarto sequestrador teria fugido junto com Jean.

A delegada afirmou, ainda, que haveria outros comparsas num carro que estava em frente ao ônibus. De acordo com ela, as vítimas contaram que os criminosos se comunicavam com outras pessoas pelo celular.

O grupo vai responder inicialmente por três crimes: roubo triplamente qualificado (concurso de pessoas, uso de arma de fogo e restrição de liberdade), formação de quadrilha e receptação, já que estavam com uma arma roubada. Com eles, foram apreendidas três pistolas, sendo uma do policial militar que foi desarmado, uma com numeração raspada e a última que havia sido roubada na área da 35ª DP (Campo Grande) e uma granada.

O ônibus frescão seguia da Praça Mauá para Duque de Caxias com pelo menos 20 passageiros e foi sequestrado em frente à Universidade Estácio de Sá, na Avenida Presidente Vargas, no Centro, por volta das 20h20m. Cinco vítimas e um bandido foram baleadas no tiroteio: três passageiros, um policial e um homem que estava num carro que passava por perto. Com o ônibus sob o controle do bando, equipes do Bope foram para o local negociar a libertação dos passageiros. Às 21h35m, a Secretaria estadual de Segurança deu por encerrada a ação, que durou pouco mais de uma hora.

A passageira Fabiana Gomes da Silva, de 30 anos, foi baleada no glúteo. Ela foi levada para o Hospital Souza Aguiar, assim como Alcir Pereira Carvalho, de 56, que estava de carona num Montana e foi baleado no pescoço. Outra passageira, Elisa Monica Pereira, de 46, levou um tiro que perfurou o tórax e atravessou o pulmão. Ela também foi levada para o centro cirúrgico do Souza Aguiar e seu estado é grave. Segundo a família de Elisa, ela só pega o ônibus em que foi baleada às terças-feiras, dia em que ela faz um curso em Copacabana.

Também passageiro, Josuel dos Santos Messias, de 46, levou um tiro na perna, foi atendido e liberado. Um policial que fazia parte do grupo que conseguiu parar o ônibus também foi ferido e encaminhado ao Hospital Geral da PM. O bandido Jean Junior da Costa Oliveira, de 21 anos, levou um tiro na perna.
Passageiros relatam os momentos de tensão

O passageiro Hélio Gomes, de 30 anos, foi obrigado pelos bandidos a dirigir o coletivo na Presidente Vargas, no trecho entre a Universidade Estácio de Sá e a estação Cidade Nova do Metrô. O analista de sistemas contou, em depoimento na 6ª DP (Cidade Nova), que entrou no ônibus na Central do Brasil e acredita que os bandidos já estivessem dentro do coletivo. Já na Avenida Presidente Vargas, na altura do Sambódromo, o motorista encostou o ônibus, desconfiado da movimentação, para pedir ajuda a policiais.

- Achamos que o ônibus havia enguiçado. Depois de um tempo, um policial entrou e pediu para todos colocarem as mãos no banco à frente porque os passageiros seriam revistados. Éramos cerca de 20 pessoas, a maioria mulheres - disse Hélio, ao deixar a delegacia.

Neste momento, os bandidos teriam se revelado, desarmado o policial e o expulsado do ônibus. O motorista já havia fugido do coletivo. Como Hélio aparentava estar calmo, os assaltantes colocaram a arma em sua cabeça e o obrigaram a assumir a direção. O analista de sistemas furou o bloqueio policial e avançou na Avenida Presidente Vargas, até os policiais começarem a atirar na direção dos pneus.

- Nesse momento, os assaltantes se refugiaram no fundo do ônibus e eu me abaixei. Quando o ônibus parou, quebrei a janela lateral e fugi - contou.

Segundo Hélio, os assaltantes falavam que uma das granadas estava sem pino. Enquanto um dos bandidos ameaçava matar os passageiros, o outro falava que não queria fazer isso:

- O pessoal está dizendo que os tiros que feriram algumas pessoas vieram de fora do ônibus, mas não tenho como afirmar isso.

Uma das primeiras a registrar queixa, Mara dos Santos, de 52 anos, deixou a delegacia na noite de terça-feira ainda bastante abalada. Ela contou que havia saído do camelódromo da Uruguaiana, onde trabalha, e pegou o ônibus para voltar para casa, em Caxias.

- Nunca achei que iria passar por isso. Eram três bandidos. Acho que os tiros que atingiram passageiros vieram de fora do ônibus. Foi uma noite horrível de terror.

O caso de ontem lembra o do ônibus 174 , em 12 de junho de 2000 - que acabou virando filme . Na ocasião, o sequestrador, Sandro do Nascimento, manteve reféns no coletivo durante várias horas, na Rua Jardim Botânico. No fim do dia, a última refém, Geisa Gonçalves, de 21 anos, acabou morta. Depois de rendido, o sequestrador acabou assassinado no carro da polícia pelos homens que o prenderam, como apurou o inquérito.

Em julho deste ano, dois homens armados causaram pânico durante uma tentativa de assalto dentro de um ônibus da linha 352, no sentido Centro da Avenida Presidente Vargas, em frente à sede da prefeitura. Um tiroteio com policiais militares do Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (BPTur) deixou cinco pessoas feridas, entre elas os dois bandidos.

Assaltos a ônibus também são comuns nas linhas que passam pela Ponte-Rio Niterói. Na última quinta-feira, um coletivo da Viação 1001 que seguia do Rio de Janeiro para Piratininga, Região Oceânica de Niterói, sofreu um assalto por volta das 19h30m . Três bandidos entraram no veículo em pontos diferentes e anunciaram o assalto um pouco antes da subida da ponte. De acordo com o motorista, que não quis se identificar, todos os cerca de 30 passageiros do ônibus foram assaltados, e pelo menos três pessoas ficaram feridas.

Especialistas analisam sequestro de ônibus

Apesar das ocorrências recentes, estatísticas mostram que os assaltos a coletivos estão em queda no Rio. Entre janeiro e junho de 2010, foram 4.021 registros. No mesmo período deste ano, 3.498 (queda de 13%). No entorno da Avenida Presidente Vargas, há a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro São Carlos, que atende a um complexo de nove favelas.

- É preciso dizer que nenhuma cidade do país e do mundo está livre de viver eventos iguais. Por isso, precisamos avaliar um conjunto de ações e não fazer julgamento em função de eventos isolados - afirmou o sociólogo Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj.

Ao analisar o caso, Cano lembrou ainda que pautar a política de segurança pública apostando apenas na expansão das UPPs não resolve a questão da violência.

- O estado precisa propor um conjunto de medidas, como metas de redução da letalidade da polícia, taxa de esclarecimento de crimes, sobretudo de homicídio; melhor formação e melhores salários para os policiais. UPP sozinha ajuda, mas não muda questão central da violência - disse Cano.

Para o sociólogo, a polícia precisa abandonar a troca de tiros por investigações profundas do crime organizado, desarticulando suas redes:

- O importante é criar mecanismos para investigações profundas, evitando atuar apenas nos grandes eventos.

Para a antropóloga Alba Zaluar, coordenadora do Núcleo de Pesquisa das Violências (Nupev) da Uerj, a situação do Rio avançou bastante desde o sequestro do 174. Ela elogiou a atuação da polícia que lidou com o problema sem que houvesse mortos. Ela disse que a pacificação de favelas não é suficiente para evitar esse tipo de crime.

- A pacificação foi feita em determinados territórios. Isso não quer dizer que a cidade vai ficar livre de crimes. Ainda não muito criminosos na cidade, fruto de anos e anos de abandono. O que está faltando é apostar em projetos sociais, principalmente, para jovens.


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