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sexta-feira, 29 de julho de 2011

PACIFICAÇÃO NO RS - POLÍCIA RETOMA LOTEAMENTO REFÉM DO TRÁFICO


RETOMADA DA PAZ. Tráfico despejado em loteamento. Operação da Polícia Civil e da Brigada Militar prendeu bando que atemorizava moradores de residências populares em Gravataí - EDUARDO TORRES, DIÁRIO GAÚCHO, ZERO HORA, 29/07/2011

Ao cumprir 26 mandados de busca e apreensão ontem, uma operação conjunta da Polícia Civil e da Brigada Militar, com apoio da Guarda Municipal de Gravataí, barrou o avanço de traficantes e restaurou a tranquilidade das famílias que moram em casas populares do Loteamento Princesas. Onze pessoas foram presas em flagrante por tráfico, um foragido da Capital foi capturado e dois adolescentes que supostamente agiam nas bocas de fumo foram apreendidos.

Na Operação Retomada, deflagrada desde as primeiras horas da manhã e que envolveu pelo menos 150 agentes, um homem de 20 anos apontado como o líder da organização foi preso temporariamente. A investigação da 1ª DP de Gravataí, em parceria com o serviço de inteligência do 17º BPM, durou quatro meses para desvendar como o tráfico dominava – há pelo menos dois anos – o loteamento que abriga 248 famílias na parada 102 da rodovia Gravataí-Santo Antônio da Patrulha (ERS-030).

– As famílias eram coagidas a sair da casa a que tinham direito ou a se calar diante do tráfico no loteamento. Até mesmo os órgãos da prefeitura estavam proibidos de entrar lá – explicou o delegado Anderson Spier.

– É o medo que faz as pessoas entregarem tudo – completou a líder comunitária Maristela Felipe.

Pelo menos 20 casas haviam sido tomadas por criminosos para repassá-las a famílias aliadas do tráfico ou vendê-las por até R$ 4 mil. Quem saía dali, aceitava em torno de R$ 100 para se retirar sem ferimento. Alguns não se retiravam, mas eram coagidos a esconder drogas no pátio ou mesmo dentro de casa. E ficavam obrigados a silenciar. O domínio do crime entre as casas populares ficava evidente a cada abordagem da BM. Raramente os policiais voltavam com drogas apreendidas. Limitavam-se a pegar radiocomunicadores, revelando a estratégia elaborada pela quadrilha.

– Eles expulsaram à força os moradores da primeira casa do loteamento. É um ponto alto, que permite visão privilegiada de toda a ERS-030. Eles sempre sabem quando a polícia se aproxima e dão o sinal para as bocas – afirma o delegado Anderson Spier.

Quadrilha furtava casas dos próprios vizinhos

À noite, a entrada do loteamento ainda recebia uma espécie de posto de controle. Cada um que entrava era abordado ou, no mínimo, observado. É que os pontos de venda de drogas funcionavam em algumas casas, com os traficantes circulando livremente pelas ruas. Na operação de ontem, foram apreendidos crack, maconha e cocaína. Ainda foram cumpridos mandados no bairro Parque dos Anjos, em Gravataí, em Glorinha e no bairro Bela Vista, em Alvorada. De acordo com o delegado regional Leonel Carivalli, a intenção era quebrar a possível rota da droga.

Com um dos presos, policiais ainda recuperaram um Vectra roubado e apreenderam uma pistola .380. Duas motos furtadas foram identificadas, e munições de calibre 38 e até de fuzil 7.62 mm, apreendidas. De acordo com os investigadores, além da venda de drogas, a quadrilha furtava as casas do próprio loteamento.

O relato de quem resistiu a ameaças dos bandidos

A chuva não inibiu um metalúrgico de 27 anos de acordar cedo no Loteamento Princesas, em Gravataí. Do portão de madeira, ele acompanhava atentamente a retomada do local. E tinha motivos de sobra para vibrar com a presença das forças de segurança no local.

Na memória dele, que trabalha de madrugada, ainda está uma noite de pânico, há três meses. No trabalho, atendeu ao telefone e ouviu a mulher angustiada, com o filho recém-nascido. No portão, estavam homens armados dispostos a invadir a casa. Do lado de fora, os criminosos ameaçavam:

– Se ela não sair, vamos invadir, que não dá nada mesmo.

Um vizinho apoiava a ameaça. De acordo com a polícia, seria mais um dos ocupantes irregulares do loteamento. O metalúrgico, que havia recebido a casa do município, resistiu. Chamou a polícia e suportou os últimos meses de tensão.

– Agora, sim, vai dar para viver tranquilo aqui. Tinha de limpar tudo isso porque o Princesas virou terra sem lei – disse o metalúrgico, enquanto acompanhava a retirada de um dos invasores, aliado da quadrilha de traficantes que impôs o medo entre os moradores.

Casas serão vistoriadas

A retomada definitiva do Loteamento Princesas começou na tarde de ontem, depois de encerrada a ofensiva policial. Uma delegacia móvel e um posto da Brigada Militar foram instalados na entrada do loteamento, além de um posto do Departamento Municipal de Habitação (Demhab) que, a partir de agora, trabalha para identificar todos os que vivem no local. Vistorias começaram ontem à tarde. Onde for verificada a ocupação irregular, haverá desocupação por ordem judicial, interdição e imediata reforma do local.

Poucas famílias permaneceram

Para morar no Loteamento Princesas, uma família precisa atender a todos os requisitos do Demhab de Gravataí. Mas o órgão municipal não tinha o controle do que realmente ocorria nas residências. De acordo com a presidente da associação de moradores, Maristela Felipe, 50 anos, das 248 famílias originais, menos de 50 continuam morando ali. Ela própria é uma das que foi para o Princesas quando um morador não gostou do que encontrou lá. Maristela foi registrada pelo Demhab no primeiro recadastramento, feito em 2009. Naquela ocasião, 60 novas famílias foram incluídas. Mas a saída dali quase nunca acontece de forma espontânea.


O LOTEAMENTO PRINCESAS

- O loteamento com 248 moradias populares em Gravataí, cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre, foi criado em 2008 como novo lar para moradores de áreas de risco, sobretudo às margens do Arroio Barnabé.
- A venda ou repasse das residências para outras famílias é proibida pelo município.
- A maioria das famílias é de catadores, habituados com o trabalho na região mais populosa de Gravataí. Por isso, a mudança para a Parada 102 da rodovia Gravataí-Santo Antônio da Patrulha (ERS-030) desagradou a boa parte dos moradores originais.
- Diante de denúncias de vendas e abandonos das casas, em 2009, o município recadastrou moradores e, no ano passado, entregou termos de compromisso de posse aos que estavam regulares.
- Neste ano, a polícia passou a investigar a ocupação das casas abandonadas ou com moradores expulsos, ocupadas por criminosos.
- Conforme a polícia, o líder do tráfico poderia morar regularmente no loteamento, já que a mãe tem uma das casas cadastradas pelo município. Ele, porém, havia pelo menos um ano morava em casa invadida depois de expulsar os proprietários.

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