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domingo, 19 de junho de 2011

MOVIMENTO ESTUDANTIL ESCORREGA NA BAIXARIA

Sem inimigo externo como nos tempos da ditadura, universitários se enredam em disputa pelo poder em entidades - CARLOS ANDRÉ MOREIRA E ELTON WERB, zero hora, 19/06/2011 | N° 16734

Referência nas lutas sociais e políticas do país, o movimento estudantil foi notícia nos últimos meses por troca de acusações, episódios de violência e um festival de baixarias. Em setembro do ano passado, na eleição para o DCE da UFRGS, houve boletins de ocorrência por agressão e suspeitas de fraude e até de roubo de atas. Nos dias 8 e 9 deste mês, a escolha da representação estudantil da PUCRS no 52º Congresso da UNE foi marcada por violência e agressão a estudantes. O que aconteceu com o movimento estudantil?

Não que a política estudantil não tenha enfrentado agressões e episódios policiais no passado. Reprimida durante a ditadura militar (1964-1985), chegou a ser posta na ilegalidade, sem, no entanto, abrir mão da atuação por meio de uma estrutura clandestina. Hoje, porém, parecem predominar disputas entre correntes ideológicas do próprio movimento.

– O movimento estudantil não tem mais caráter anti-institucional, como nos anos 1960. Ao contrário, é um movimento extremamente institucionalizado e de aparelhagem das máquinas internas – avalia Daniel Mendonça, coordenador do mestrado em ciência política da UFPel.

O historiador Marco Antonio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos, oferece outra explicação. Para ele, a sociedade e a política brasileira mudaram desde a redemocratização, tornando a força do movimento equivalente à de outros atores do processo democrático:

– Estudantes tiveram protagonismo no Brasil, desde os anos 1930, porque os partidos ainda eram frágeis, e a sociedade civil, desorganizada. O deslocamento populacional campo-cidade mudou e criou novos problemas urbanos. Assim, nos anos 1960 e 1970, o ME ocupou enorme espaço na cena política. Com a redemocratização, foi desaparecendo, substituído por outras formas de fazer política.

Líderes de ascensão recente no movimento estudantil reconhecem que a democratização e a instituição de programas como o ProUni e o Enem abriram a porta da universidade para novas camadas da população. O resultado é entidades alienadas das grandes discussões do país e preocupadas com questões de alcance mais restrito, como a luta pela meia-entrada no cinema.

Villa complementa:

– A UNE começou a viver grave crise quando acabou com a eleição direta. A eleição via delegados é um caminho para a burocratização e o aparelhamento.

Forjada no movimento, a deputada Manuela D’Ávila (PC do B) observa que a política estudantil continua sendo um laboratório para a política partidária, mas deixou de ser a principal maneira de o jovem se envolver com as lutas sociais.

O inexorável avanço das redes sociais é uma das ameaças ao velho modelo de política estudantil. Em janeiro, estudantes de Salvador usaram o Twitter para protestar contra o aumento das passagens de ônibus. Em poucos dias, mais de 3 mil pessoas seguiam os tweets da manifestação. No início deste mês, alunos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) fizeram um vídeo contra o atraso na obra de um prédio da Faculdade de Mídias Digitais. A gravação foi vista por milhares de pessoas.

– A tendência ao aparelhamento é contrabalançado pela concorrência de vários grupos e uma forte tendência neoanarquista – complementa Michel Zaidan, professor da Universidade Federal de Pernambuco e um dos organizadores do livro O Movimento Estudantil Brasileiro e a Educação Superior.

Nos bastidores, partidos e dinheiro

Divisões entre grupos deixam interesses de estudantes em segundo plano
O rompante de violência que cercou a escolha dos representantes da PUCRS para o 52º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), nos dias 8 e 9, expõe uma tendência do atual movimento estudantil. Agressões verbais e físicas, intrigas, inimizades, radicalismo exacerbado, depredações, disputas partidárias e denúncias de todo tipo (de eleições com cartas marcadas a desvio de dinheiro) transformam a política estudantil em caso de polícia e comprometem ainda mais a imagem do movimento – principalmente entre a maioria dos universitários, que assistem indiferentes às confusões protagonizadas pelos supostos líderes.

Historicamente polarizado pelas grandes questões nacionais, o movimento estudantil atual acaba reproduzindo conflitos existentes entre representações partidárias que, por sua vez, também enfrentam problemas em seu relacionamento com a sociedade. É o que tem ocorrido na PUCRS, onde um grupo sob influência do PSOL e do PT tenta derrubar outro, ligado ao PDT, há quase duas décadas encastelado no DCE.

Na UFRGS, a disputa gerou dois campos ainda mais antagônicos: um à direita, representado por partidos como o PP e o DEM, da diretoria anterior do DCE, e outro à esquerda, com o PSOL à frente, que retomou o controle do diretório no ano passado, depois de ocupá-lo por cinco anos em meados da década passada. Ao sair, cada grupo responsabiliza o outro por suposto mau uso dos recursos financeiros, numa roda-viva que não raro chega às delegacias de polícia.

– Tem muito dinheiro envolvido. Só para providenciar o cartão do TRI, usado para a compra da passagem escolar, o DCE cobra uma taxa de até R$ 16,60 por estudante – diz Cleber Machado, do Centro Acadêmico de Informática da UFRGS, de oposição ao atual comando do diretório.

Na PUCRS, além da contribuição de R$ 3 cobrada compulsoriamente de cada estudante, o DCE obtinha recursos com xerox, transporte escolar a até com a distribuição de bolsas de estudo e a venda de bebidas alcoólicas dentro dos centros acadêmicos. Em 2004, a contribuição para o DCE tornou-se facultativa. A universidade também mudou o sistema de concessão de transporte escolar, e o de bolsas passou para a esfera do ProUni. Mas, como compensação, repassa mensalmente um valor para os centros acadêmicos, retirado do orçamento da universidade. O montante não foi informado.

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