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segunda-feira, 9 de maio de 2011

A MÁFIA DO JOGO - LEGISLAÇÃO NÃO PREVINE E NEGÓCIO COMPENSA DEMAIS

CAÇA-NÍQUEIS, CAÇA-VIDAS. Legislação não é preventiva - ZERO HORA, 09/05/2011

A impunidade garantida a quem explora o jogo ilegal motiva autoridades encarregadas de reprimi-lo a defender um endurecimento da legislação. Como a oferta do jogo de azar é considerada contravenção, e não crime, a punição fica limitada a multas e apreensões. Para o proprietário que sofre uma batida policial, basta reabrir a casa e recuperar o prejuízo em poucos dias.

O promotor José Francisco Seabra Mendes Júnior, da Força-Tarefa de Combate ao Jogo Ilícito, figura entre os que defendem a criminalização da atividade – com a possibilidade de colocar na cadeia quem opera o jogo. Ele é apoiado pelo juiz substituto da Capital Ruy Simões Filho, que propõe uma lei especial para a área.

– A exploração do jogo não é uma coisa inocente. É muito mais grave do que aparenta. Entendo que precisa haver uma repressão maior, com legislação rigorosa. As pessoas sabem que, se matarem, podem pegar uma pena de 20 anos. Isso tem caráter preventivo. No caso do jogo, a legislação não está tendo essa função preventiva. Por isso, precisamos de um mecanismo que tenha o poder de pressionar e coibir – diz o juiz.


“O negócio compensa demais” - Dono de casa de caça-níqueis na Região Metropolitana

Zero Hora – Como o senhor começou a explorar os jogos de azar?

Proprietário – Tenho um restaurante. Um cara apareceu oferecendo para colocar as máquinas. Pus três. Foi em 2003. Então colocaram um bazar à venda junto ao restaurante. Comprei e enchi de máquinas. São oito anos no mesmo lugar. Fiquei três anos sem fechar, de porta aberta, na frente de uma parada de ônibus. Era a época dos bingos abertos.

ZH – Hoje não é mais assim?

Proprietário – Hoje tenho portas de aço, com cadeado. A entrada é pelo restaurante. Só deixo entrar para jogar quem eu conheço.

ZH – A casa já foi fechada por policiais?

Proprietário – Já me fecharam 30 vezes. Mas nunca levei mais de dois dias para reabrir.

ZH – De onde vêm as máquinas?

Proprietário – Compro os monitores em briques, por R$ 30. São usados, de computador. Antes comprava de LCD, por R$ 500. Gastava mais de R$ 1 mil no gabinete, que é a armação. Agora a gente mesmo faz, de madeira. A placa mãe também compro em brique, por R$ 150. As ceduleiras são mais difíceis de conseguir. Usadas, saem por R$ 100. Hoje se faz uma máquina por R$ 600. Antes custava R$ 3 mil.

ZH – Quem faz a montagem?

Proprietário – Tenho um cara que monta, especializado nisso. Fazemos as máquinas bem simples prevendo que vamos perdê-las. O prejuízo cai nas apreensões. Eles levam, a gente repõe.

ZH – Que punição o senhor sofreu nas quase 30 vezes em que sua casa foi fechada?

Proprietário – Tenho 12 termos circunstanciados. Os outros pus no nome de pessoas que trabalham comigo ou que eu paguei para assumir. A punição é só uma multa. Já paguei de R$ 200, de R$ 800, de R$ 5 mil. É conforme o juiz.

ZH – Mesmo assim, o negócio compensa?

Proprietário – Compensa demais. O dinheiro entra muito rápido. Movimento R$ 10 mil, R$ 15 mil por dia. Chega a R$ 400 mil, bruto, por mês. Programo as máquinas para devolver 85% ao apostador. Ficam líquidos uns R$ 50 mil.

ZH – Os 85% de devolução são a praxe?

Proprietário – A maioria programa para devolver 40%. Penso que assim o jogador não volta. Sei disso porque também sou jogador.

ZH – Como é o ambiente da casa?

Proprietário – É um ambiente bem claro. Em geral, as casas são escuras, para quem joga não saber que horas são. Elas também servem churrasco, salgadinho, cerveja.

ZH – Como o senhor virou jogador?

Proprietário – Ganhei muito dinheiro e botei fora tudo. Dois anos atrás, fui convidado a jogar em umas máquinas diferentes. Eram casas mais sofisticadas, que pagavam acumulados de R$ 100 mil. Fui e viciei. Perdi mais de R$ 1 milhão em um ano. Ainda estou com R$ 200 mil de dívida. Eu tinha três casas de jogos e tive de fechar duas.

ZH – O senhor vai continuar a explorar o jogo no futuro?

Proprietário – Com certeza vou continuar trabalhando nesse ramo. Não pretendo fechar. Nas casas de jogo, ninguém obriga ninguém a jogar. E, além disso, não existe nenhum risco. A lei favorece. Quando a polícia aparece, é só assinar o termo circunstanciado e fazer o acerto no fórum. Dá muito lucro.

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