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terça-feira, 10 de maio de 2011

A MÁFIA DO JOGO- ESCRAVOS AMPARADOS NA LEI

LEGALIZADOS, A LOTERIA, O PÔQUER E O TURFE NÃO SÃO INOFENSIVOS. ITAMAR MELO, ZERO HORA 10/05/2011

No último dia da série sobre jogadores compulsivos, o potencial corrosivo dessas apostas, aposentado de 69 anos, neto de treinador de cavalos, perdeu mais de R$ 100 mil nas corridas.

O vício do jogo custou a perda de meio milhão de reais a um funcionário público aposentado gaúcho de 54 anos. Para alimentar a compulsão pelas apostas, ele se desfez de casa, apartamento e automóvel. Hoje mora de aluguel, anda de ônibus e vive esmagado por uma dívida de R$ 200 mil.

Que jogo devastador foi esse, capaz de provocar tamanha convulsão? Foi a Mega Sena. O homem se arruinou marcando algarismos em volantes de loteria.

– Joguei bingo e caça-níquel, mas não me interessou. O que me movia eram os milhões da Sena e da Loto. São jogos oficiais, mas destróem famílias. Viciam igual – diz.

O caso desse gaúcho desvela um perigo subestimado. Encarados como formas inofensivas de entretenimento, modalidades legalizadas como a loteria e o turfe escravizam e sugam a vida de suas vítimas com a mesma voracidade dos jogos clandestinos. Aceitos pela sociedade e amparados pela lei, são percebidos como problema quando já é tarde.

O psiquiatra Aderbal Vieira Junior, da Universidade Federal de São Paulo, observa que os indivíduos com tendência à ludopatia não se viciam em qualquer jogo, mas naqueles que atendem a determinadas necessidades pessoais. Para alguns, poderá ser o caça-níquel. Para outros, a loteria federal.

– A emoção que a pessoa tem com determinado jogo responde a fatores psicológicos e ao barato que ela busca – diz.

Estudos internacionais mostram que o vício é proporcional à disponibilidade do jogo. Essa regra transformou as corridas de cavalo em um vórtice capaz de engolir apostadores calejados por décadas de experiência. Em 2005, o Ministério da Agricultura autorizou o chamado Simulcasting Internacional – a possibilidade de apostar em corridas transmitidas ao vivo de hipódromos ao redor do globo.

O impacto da decisão pode ser medido pelo turbilhão que causou na rotina de um aposentado de 69 anos. Neto de um treinador de cavalos, ele se criou no extinto Hipódromo do Moinhos de Vento, na Capital. Durante décadas, a paixão pelas corridas esteve controlada. Manifestava-se uma vez por semana, nos dias de páreo. O precipício veio com as agências e casas de apostas suntuosas que tornaram possível jogar todos os dias, da manhã à noite, e madrugada adentro. Entre petiscos e drinques, no conforto de estofados, os frequentadores acompanham em telas de plasma corridas do Brasil, dos Estados Unidos e até da Austrália.

– Passei a frequentar essas casas. As dívidas se acumularam. Perdi mais de R$ 100 mil – diz o aposentado.

A Caixa Econômica Federal questionou a legalidade do Simulcasting Internacional. Os jóqueis-clubes reagiram se municiando de pareceres jurídicos. A disputa pelo dinheiro dos apostadores é de se esperar em um mercado que movimenta valores estratosféricos. Só as loterias federais arrecadaram no ano passado R$ 8,8 bilhões – ou R$ 46 por brasileiro. O aposentado que se arruinou apostando na Quina e na Mega Sena defende que parte desse dinheiro seja destinada a tratar jogadores patológicos. O homem conta que começou a se perder nas lotéricas de cada esquina há uma década. Depois, com comprovante na mão, acessava o endereço eletrônico da Caixa e esperava o resultado do sorteio, o coração aos saltos.

– Veio uma época que eu não conseguia mais me controlar. Jogava todos os dias, na loteria do dia. Apostava alto. Nas mais acumuladas, cheguei a apostar R$ 1 mil. Sempre perdia e sempre acreditava que na próxima vez ia ganhar e recuperar tudo.

Nesse universo das apostas legalizadas, um velho jogo está virando uma febre nova. É o pôquer. ZH conversou com um empresário de 54 anos que começou apostando em sites de carteado e expandiu o vício para os clubes que se espalharam pelo país. No caminho, faliu a empresa e deteriorou a vida familiar. Mulher e filha começaram a tomar antidepressivos.

As casas de pôquer que o enfeitiçaram abrem todos os dias, realizam campeonatos e distribuem prêmios. Ainda que não haja regulamentação específica e que a legalidade gere contestações, elas funcionam sob o argumento de que o pôquer não é um jogo de azar, mas de habilidade.

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