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sábado, 28 de maio de 2011

LOS INDIGNADOS - O PROTESTO E A REPRESSÃO NA VISÃO DE UM BRASILEIRO

"É uma democracia de mentira", diz gaúcho sobre repressão a manifestantes em Barcelona. Porto-alegrense mostra revolta diante da ação da polícia que expulsou os acampados da Praça Catalunha - Laura Schenkel - ZERO HORA 28/05/2011

Eduardo Neto, 29 anos, mora em Barcelona. Ele participa do movimento iniciado em 15 de maio, chamado de M-15 ou de "Los Indigados" desde os primeiros protestos. Em entrevista a Zero Hora via Facebook, o músico porto-alegrense mostra sua revolta diante da ação da polícia que expulsou os acampados da Praça Catalunha. Neto comenta as reivindicações dos manifestantes e confessa que ele mesmo está considerando deixar o país, pela falta de oportunidades.

Confira a entrevista completa:

Zero Hora — O que ocorreu ontem?
Eduardo Neto — Até então foi tudo muito pacífico, inclusive por parte da polícia. Hoje (ontem) desandou tudo. É vergonhoso: a polícia está desalojando os acampados, com o ridículo motivo que é por higiene, para limpar a praça. Minha mulher está lá no meio. TVs ignoram o que ocorre, e o centro de Barcelona está um caos.

ZH — Há muitos policiais envolvidos na ação?
Neto — A polícia ocupa a praça com muitíssima gente, carros, helicóptero. Passei por um comboio de 10 furgões policiais indo até lá há meia hora, ou seja, ainda há reforços chegando três horas após o início da ação. Escutei muitos tiros quando passei por lá, da polícia, com balas de borracha. Postaram na internet um vídeo dos policiais dando cassetadas em pessoas que se manifestam pacificamente, sentadas, unidas, de jovens a pessoas mais velhas. É de revolver o estomago o vídeo. É forte. Isso dá muita raiva. É uma democracia de mentira. E o pior é acompanhar as notícias, onde dizem que tem só 60 feridos civis, e 37 feridos policiais. De repente, machucaram as mãos de tanto bater.

ZH — Qual é a sua participação no movimento? Quando você se envolveu nisso?
Neto — Minha participação até agora foi pouca... fui ao acampamento montado na Praça Catalunha alguns dias da semana passada, antes das eleições. Assisti a algumas assembleias das muitas que fazem todos os dias. Me envolvi nisso no momento em que percebi que o que os manifestantes reivindicam nada mais é do que o simples direito de ter direitos. Faz muito tempo que cada vez mais os governos vão tirando os direitos dos cidadãos, direta ou indiretamente, e as pessoas nunca fazem nada. Agora, finalmente, resolveram correr atrás.

ZH — Ainda há protestos planejados?
Neto — As acampadas nas praças das principais cidades espanholas seguem. Não é uma manifestação relacionada diretamente com essas eleições, do último domingo. E, ainda que os espanhóis estejam buscando mudanças dentro do país, a grande maioria das reivindicações são aplicáveis para qualquer país europeu, ou mesmo sul-americano. Ontem, através do Facebook, estavam divulgando uma manifestação semelhante que aconteceu em Atenas, gregos lutando pelos seus direitos.

ZH — Qual é a realidade do jovem espanhol hoje?
Neto — A Espanha tem uma taxa de desemprego por volta de 40% entre os jovens. Isso é muito. A grande maioria dos meus amigos e conhecidos que vivem aqui, espanhóis, europeus, ou mesmo sul-americanos, têm ensino superior, muitos têm até duas ou três graduações, mestrados... A grande maioria fala pelo menos 3 idiomas, alguns falam cinco ou seis, e estão desempregados. Quem tem opção está saindo da Espanha. Eu, possivelmente, farei a mesma coisa.

ZH — Quando você reparou que era um movimento muito forte?
Neto — Comecei a prestar atenção nessa movimentação toda no dia da primeira passeata, 15 de maio, pois alguns amigos que nunca se envolvem com política participaram. Quando me contaram os detalhes da passeata, já me interessei. Fiquei sabendo que era um movimento feito por pessoas normais, que não têm vinculo nenhum com partidos políticos nem com sindicatos, que pedem coisas que parecem impossíveis de conseguir, mas que racionalmente são tão óbvias como respirar. Por causa da ação desproporcional por parte da polícia, pois todos os protestos, passeatas e acampadas foram totalmente pacíficos por parte da população, essa primeira passeata ganhou muito mais destaque através da internet do que normalmente ganharia. Isso fez com que as pessoas se revoltassem contra essas ações policiais (dizendo, por exemplo "na Espanha podemos acampar pra ir no show do Justin Bieber, mas não para defender nossos direitos") e de um dia para o outro muita gente em todo país tomou conhecimento dos motivos da passeata. Com isso, nos dias seguintes se uniram muitas pessoas aos acampamentos formados nas praças de mais de 60 cidades por toda Espanha, e pouco a pouco, os espanhóis ao redor do mundo começaram a protestar nas cidades onde vivem.

ZH — Em quais cidades ocorreram os maiores protestos?
Neto — Em Barcelona e principalmente em Madrid, que são as duas principais cidades espanholas, nos dias anteriores às eleições milhares de pessoas tomaram as ruas e as praças, fizeram panelaços, gritaram, cantaram, passaram seus recados por cartazes, frases, vídeos, etc. Os responsáveis por esses acampamentos nas praças se organizaram muito bem, e mostraram que isso não é um movimento de meia dúzia de pessoas pedindo pra votarem em branco. Nas milhares de assembleias que até hoje seguem acontecendo nessas praças, se traçam objetivos, discutem idéias, organizam comitês, funcionam como uma verdadeira democracia deveria funcionar, com o principal objetivo de que cheguemos um dia a viver em uma democracia verdadeira. Percebi que o movimento tomou grandes proporções quando vi pela televisão, que até então ignorava essa manifestação, imagens da Plaza Puerta del Sol, de Madrid, e todas as ruas adjacentes, completamente tomadas por pessoas se manifestando pacificamente, pessoas de todas as idades, religiões, cores, tamanhos, preferências sexuais, nacionalidades.

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