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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

TERROR - MORADORES LEMBRAM VIDA SOB DOMÍNIO DO TRÁFICO.

Moradores do Complexo do São Carlos e do Morro dos Prazeres lembram vida sob o domínio dos traficantes - O GLOBO, 22/02/2011 às 23h46m; Gabriel Mascarenhas

RIO - Com um fuzil apontado para a cabeça, o motorista aposentado Felipe (os nomes na reportagem são todos fictícios para proteger os moradores) era obrigado por traficantes a levar corpos e bandidos baleados para hospitais ou outros endereços determinados por eles. Aos 63 anos, até junho passado ele ganhava a vida transportando moradores da Mineira e do São Carlos, favelas vizinhas e onde ele morou durante a vida inteira. Perdeu a conta de quantos passageiros carregou, mas lembra de cada uma das vezes que a ordem para seguir viagem vinha acompanhada do cano de uma arma.

- Cansei de explicar em delegacias que fui obrigado, com fuzil apontado para a cabeça, a deixar determinado vagabundo cheio de sangue na porta do (hospital) Souza Aguiar. Às vezes, levava um monte deles à praia. E tinha hora para levar e buscar. Perdia o dia de trabalho, não ganhava nada e não podia reclamar. Se eu escrevesse um livro, seria de terror - contou ele em voz baixa, pedindo o anonimato.

Felipe é um dos 26 mil moradores das nove comunidades recém-ocupadas pela polícia, no Estácio e em Santa Teresa - São Carlos, Mineira, Coroa, Zinco e Querosene, Fallet, Prazeres, Fogueteiro e Escondidinho -, onde serão instaladas três Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), duas delas nesta sexta-feira. Uma beneficiará Fogueteiro, Fallet, Coroa e Mineira. A outra, Prazeres e Escondidinho.

Morro vizinho era "território inimigo"

A opção por atender a essas seis comunidades se deve à proximidade com o carnaval: Fogueteiro, Fallet, Coroa e Mineira ficam em torno da Sapucaí, e os morros dos Prazeres e do Escondidinho estão localizados em Santa Teresa, endereço de diversos blocos.

Após essas duas inaugurações, ficará faltando somente uma das UPPs - entre as três anunciadas durante o processo de pacificação das novas favelas -, que será sediada no Morro de São Carlos e beneficiará a Favela do Querosene.

"Claro que há a possibilidade de um dia não perdermos mais nosso filhos para o tráfico, basta o estado querer. Vamos ver como vai ficar essa história de UPP..."

O GLOBO visitou parte dessas comunidades e conversou com moradores. Além da companhia permanente de policiais, a maioria desses cariocas têm pelo menos outras duas coisas em comum: medo e lembranças das barbáries praticadas pelo tráfico. Desde a expulsão dos bandidos, o cartão de visitas é o olhar desconfiado e o silêncio típicos de quem aguarda com receio a transição entre dois modelos distintos de poder.

No tempo em que as favelas de São Carlos e da Mineira, distantes 200 metros uma da outra, eram comandadas por facções rivais, Felipe morava na Mineira e ficou anos sem visitar os amigos ou levar passageiros ao morro vizinho, "com medo de não voltar". Quem vivia em uma não frequentava a outra. Ordem do tráfico. Mais ou menos nessa época, em 2005, o filho de Adriano foi executado dentro de casa, enquanto dormia. Soldado do tráfico, ele foi assassinado aos 20 anos. Adriano, que admite ser usuário de cocaína, vício que o levou para a cadeia, tem no peito uma tatuagem com o rosto do rapaz ainda criança:

- Era o meu único filho. Ele estava no "plantão" (sentinela dos traficantes) e levou três tiros da polícia. Imagina você receber uma notícia dessas preso, como aconteceu comigo. Tive autorização para ir ao enterro. Foi o pior dia da minha vida. Claro que há a possibilidade de um dia não perdermos mais nosso filhos para o tráfico, basta o estado querer. Vamos ver como vai ficar essa história de UPP... Não basta apenas pacificar, queremos melhorias.

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