Revelamos aqui as causas e efeitos da insegurança pública e jurídica no Brasil, propondo uma ampla mobilização na defesa da liberdade, democracia, federalismo, moralidade, probidade, civismo, cidadania e supremacia do interesse público, exigindo uma Constituição enxuta; Leis rigorosas; Segurança jurídica e judiciária; Justiça coativa; Reforma política, Zelo do erário; Execução penal digna; Poderes harmônicos e comprometidos; e Sistema de Justiça Criminal eficiente na preservação da Ordem Pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

VENCEMOS AQUI A BATALHA MAIS DIFÍCIL


“Vencemos aqui a batalha mais difícil” - José Mariano Beltrame, secretário da Segurança Pública do Rio de Janeiro - HUMBERTO TREZZI | ENVIADO ESPECIAL/RIO


– Fala aí, gaúcho! Com esse sotaque, só pode ser da querência.

Foi assim, numa saudação alegre, que o secretário José Mariano Beltrame se dirigiu ontem à reportagem de Zero Hora, ao perceber a presença de um conterrâneo no coração do recém-ocupado Complexo do Alemão, zona norte carioca. Beltrame fazia sua primeira incursão pelo local, palco da maior vitória em todos os tempos das polícias fluminenses contra o crime organizado. Aproveitou uma parada de alguns minutos para conceder entrevista exclusiva a ZH. De quebra, entrou ao vivo, por telefone, no programa Gaúcha Repórter, da Rádio Gaúcha, conduzido por Lasier Martins.

Gaúcho de Santa Maria, Beltrame disse que por hora não tem como voltar ao Estado. Ele pretende conduzir, até 2014, a ocupação policial de 40 favelas da capital fluminense. E implantar em cada uma delas uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

– Não sei se esse modelo serve para o Rio Grande do Sul. Cada Estado tem suas peculiaridades – opinou Beltrame, nesta entrevista:

Zero Hora – Como o senhor está? Cansado do Rio? Não é hora de voltar ao Rio Grande do Sul?

José Mariano Beltrame – Saudade não falta, mas não dá. Até a mulher é carioca, os dois filhos mais novos são cariocas... E tenho muito que fazer por aqui. Até 2014 vamos implantar 40 UPPs. Vamos retirar do pessoal da periferia o estigma de viver em favela, de serem dominados por bandidos. O Rio de Janeiro ainda não se deu conta do que significa essa vitória que obtivemos no Alemão. Até bazuca encontramos hoje (veja reportagem na página 62). Temos informações que 60% de alguns tipos de crimes, como o roubo de veículos, passavam por criminosos que atuavam aqui. Nos últimos dias a incidência de roubos de motos caiu, porque os bandidos já não têm onde entregar a mercadoria, que era receptada aqui.

ZH – O senhor não pretendia ocupar o Alemão e a Vila Cruzeiro agora. O que o forçou a fazer isso?
Beltrame – As circunstâncias, os atentados dos bandidos, que partiram daqui. Tivemos de mexer na agenda, o plano era ocupar essas áreas só daqui a 15, 16 meses. Não tínhamos efetivo, faltam 3 mil policiais para fazer ações desse tipo, sem deixar o restante da cidade desguarnecida. Mas tivemos de agir e agimos. E, já que entramos aqui com uma finalidade, vamos manter este território. No próximo mês retomaremos o cronograma.

ZH – Como é que um lugar desses vira um bunker do crime? Não será em decorrência de corrupção policial?
Beltrame – Isso não vem de hoje. São três décadas de abandono, nas quais os bandidos aproveitaram para se armar. Policial não entrava aqui, por isso estamos comemorando. Vencemos aqui a batalha mais difícil. Sobre corrupção, é preciso salientar: estou completando quatro anos no cargo, com mil policiais demitidos. Tem de criar estruturas para diminuir essa criminalidade. Reverter a lógica da tolerância a esse tipo de deslize não é fácil.

ZH – Moradores do Alemão reclamam de abusos policiais. Uma moradora disse ao senhor que um PM tentou tirar dinheiro... Como o senhor vê essa situação?
Beltrame – Já pedi desculpas a ela e vamos tomar providências, até porque ela forneceu um nome. Uma operação dessa envergadura não será abalada pela ação de alguns maus policiais. Tem gente fazendo afirmações temerárias, isso atrapalha. Trabalharemos com a Corregedoria, mas não nos afastaremos do rumo. Para punir os policiais existe o Judiciário.

ZH – O senhor foi convidado para aplicar as UPPs em outros Estados? O governo federal lhe procurou?
Beltrame – Não fui convidado, nem poderia. Sei que o governo federal tem planos de implantar esse tipo de unidade. A UPP pode até ser adotada em outros lugares, mas ela serve exatamente para áreas onde temos problema de uso de armas de grande poder de fogo. Onde o bandido tem território. Talvez a resposta ao crime em locais com menos problema de armamento seja policiamento itinerante... Cada Estado tem suas peculiaridades.

ZH – O senhor considera que a recuperação do Complexo do Alemão pelo poder público é o presente de Natal antecipado?
Beltrame – Não. Apenas tivemos sucesso em algo que devíamos à população. Não sou do tipo de comemorar.

ZH – E o Inter (Beltrame é colorado)? O senhor vai conseguir ir a Abu Dhabi?
Beltrame – Gostaria...mas não é possível.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Eu critiquei muito a política do enfrentamento aplicada pelo Governador Cabral e pelo Delegado Beltrame. Sempre vi naquela estratégia uma política partidária de efeito superficial, isolado, imediatista, midiático e politiqueiro. Sem o objetivo de restabelecer a ordem pública nos locais dominados pelo crime, os policiais entravam favela a dentro, enfrentavam a tiros os bandidos, prendiam e matavam traficantes, apreendiam drogas e armas, e saiam de lá deixando as comunidades a mercê de retaliações e com o problema ainda nas mãos.

Porém, as constantes entrevistas do Delegado Beltrame evidenciavam que aquelas estratégias não faziam parte de seu sonho de consumo. Eles já vislumbrava a necessidade de integração dos Poderes de Estado, da sociedade organizada e dos processos administrativos, jurídicos e judiciais para a eficácia dos instrumentos de preservação da ordem pública.

E, ele conseguiu num momento de crise que assombra a segurança da Copa de Mundo de 2014 e da Olimpíada do Rio em 2016. Este terror acordou o Presidente da República que, passando por cima da lei, autorizou o apoio da Marinha e posteriormente do Exército, Aeronautica, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal. COm isto, o Delegado Beltrame conseguiu os recursos que sonhava a muito tempo.

Parabéns. Delegado Beltrame. Que este seja o caminho e o resultado de muitas batalhas que terá pela frente até a vitória final, quando devolverá a cidade maravilhosa aos cariocas, ao Rio de Janeiro, ao Brasil e ao mundo.

O Rio Grande torce pelo seu filho mais corajoso desta década.

O QUE PENSA O DELEGADO BELTRAME.

"Não somos insanos, nem inconsequentes. A gente vai solicitar qualquer tipo de ajuda quando for necessário. Mas só trazer a Força de Segurança não resolve. Apresenta resultados apenas momentaneamente. Depois eles vão embora e a população fica órfã de uma proposta concreta. É preciso que seja feito um trabalho estruturante, como estamos fazendo, para que apresente resultados a médio e longo prazo." José Mariano Beltrame, Secretario de Segurança do Rio

“A Força Nacional ficou guardando pontos de acesso. Como nenhuma ação do poder público estadual e federal aconteceu, a articulação foi desestruturada.” José Mariano Beltrame, Secretario de Segurança do Rio, sobre a impotência das ações estatais diante da ousadia do tráfico no Rio.

“Segurança pública é polícia, é o Ministério Público, é o Tribunal de Justiça, é o sistema penitenciário, é o Legislativo e o Executivo que sanciona essas leis. Então, a polícia faz a primeira parte e prende. E, se nesse sistema todo, um elo dessa cadeia se dissolve, o problema volta pra polícia novamente, assim como estamos vivendo o problema de hoje." José Mariano Beltrame, Secretario de Segurança do Rio

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