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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A GUERRA DO RIO - MORADORES DIVIDIDOS ENTRE ALÍVIO E PREOCUPAÇÃO

Morro dividido com a ocupação. Derrota do tráfico e chegada dos policiais geram um misto de alívio e preocupação nos moradores do Complexo do Alemão - HUMBERTO TREZZI | ENVIADO ESPECIAL/RIO - Zero Hora, 01/12/2010.

Marcos, 45 anos, nunca tinha visto um policial dentro do Complexo do Alemão. A polícia da favela da Grota, onde ele tem uma birosca (boteco, em carioquês), era outra – formada por bandidos. Garotada cruel, reconhece.

– Mas só com quem deve. Dia desses queimaram um estuprador por aqui. Bem feito. O cabra abusava duma sobrinha. Alguém reclamou, e o sujeito foi incinerado. Ninguém teve pena, muito menos eu. Agora a gente perdeu essa rapaziada e não sei o que vai ser – comenta o bodegueiro.

Ele se refere à troca de guarda no Complexo do Alemão. A “rapaziada do dedo”, como chamam os moradores, são os bandidos do Comando Vermelho, afugentados à bala por policiais e militares no último domingo.

O poder mudou de mãos, e gente como Marcos se sente insegura. Os criminosos, apesar de cruéis, gastavam e muito na birosca. Todo dia era dia de festa. Maços de dinheiro saíam generosos das mãos dos soldados do tráfico, sem pedido de troco, relata o comerciante. Agora os policiais afugentaram seus clientes.

O tráfico sempre foi o poder armado e o motor econômico da parte mais miserável da favela. Promove bailes funk, gasta em bebida e comida, distribui remédios, executa quem a população não gosta.

– Tudo agora mudou. Tudo é com papel, registro, reclamação para pessoas que não se conhecem – reclama um operário, que teve um portão da sua propriedade arrancado pelos policiais em busca de bandidos, porque ele não estava em casa na hora da ocupação do morro.

Outros moradores dizem que policiais quebraram a porta e levaram até pacote de bolachas. Uma senhora que vive há 50 anos no morro teve seus pertences revolvidos pelos agentes da Polícia Civil e não gostou.

Nenhum desse queixosos aceita dar o nome para entrevistas, muito menos posar para fotos. Pudera. O morro tem um policial a cada 50 metros, nesses dias de intervenção. Falar mal deles, como? Falar bem, como, se mal chegaram e atuam como exército de ocupação?

Perto do asfalto, simpatia à polícia

O cenário e os discursos mudam na medida em que se desce, rumo ao asfalto. Um negro, vidraceiro e ex-PM, saudou a chegada dos colegas de farda. Ele aproveitou para apontar aos policiais bares com caça-níqueis e drogas.

– Esses vagabundos humilhavam todo mundo. Nem ler alguns sabem, mas se metem à polícia da favela. Finalmente vou poder andar de cabeça erguida. Os colegas só não podem ir embora e me deixar na mão – avisa.

A opinião do vidraceiro é rara na parte alta do morro, controlada há três décadas pelo tráfico. Já na parte baixa, próxima à Estrada do Itararé, a maioria aplaude a ação policial.

– Graças a Deus isso aconteceu. Por tantos anos a gente aguardou – comemora Carlos Nunes, 71 anos.

Morador de uma casa de alvenaria na Estrada do Itararé, ele lembra de quando o bairro operário “virou o reduto mais armado de bandidos”, diz, apontando para onde funcionava uma antiga fábrica de tecidos.

Há dois anos, Nunes assistiu a um ônibus ser incendiado por traficantes num protesto pela morte de suspeitos. Viu hordas de criminosos armarem barricadas de fogo e assaltarem motoristas que paravam no bloqueio. O filho mais velho de Nunes, Anderson, mudou-se para um condomínio da Barra da Tijuca para fugir dos tiroteios, que marcam as paredes das casas – a dos Nunes, felizmente, está incólume.

É gente como o aposentado, que mora longe do núcleo da favela, que celebra a polícia no morro. Já os que estão no centro do ciclone de balas que se abateu sobre o Complexo do Alemão no domingo preferem o silêncio. O mutismo dos que calam para viver.

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