Revelamos aqui as causas e efeitos da insegurança pública e jurídica no Brasil, propondo uma ampla mobilização na defesa da liberdade, democracia, federalismo, moralidade, probidade, civismo, cidadania e supremacia do interesse público, exigindo uma Constituição enxuta; Leis rigorosas; Segurança jurídica e judiciária; Justiça coativa; Reforma política, Zelo do erário; Execução penal digna; Poderes harmônicos e comprometidos; e Sistema de Justiça Criminal eficiente na preservação da Ordem Pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

AS EMOÇÕES FRAUDADAS!

As emoções fraudadas!, por José J. Camargo, Professor universitário e membro da Academia Nacional de Medicina - ZERO HORA, 31/12/2010.

O relatório recente da organização internacional que estuda a qualidade da educação em diferentes países pode ser lido de várias maneiras. E nenhuma delas foi sequer citada nos confetes oficiais do final de governo.

Os números realistas e desalentadores que mostram a quantidade de brasileiros que não sabem ler nem escrever, por exemplo, delatam vergonhosamente a grande legião de excluídos que nos rodeiam, e que estão cegos para os rudimentos da vida de relação!

Mas, entre esses realmente miseráveis e os privilegiados pela educação plena, transitam milhões de brasileiros que assinam o nome, leem as placas do trânsito, sobrevoam as manchetes dos jornais, torcem por um clube de futebol, participam de eleições (alguns até se elegem!), tagarelam no bar no fim da tarde, trabalham de sol a sol, procriam e embalam netos, exercem funções simples mas vitais, e por elas, depois de décadas, se aposentam um pouco antes de morrer. Bem pouco antes.

Mas se fazem tudo isso, o que há de errado com eles?

O clamorosamente errado é que 50% dos brasileiros ditos alfabetizados não conseguem interpretar um texto. Ou seja, conhecem as letras, sabem o significado das palavras mais simples, mas são incapazes de formular um juízo ou expressar uma opinião sobre um parágrafo que contenha uma ideia. Umazinha qualquer!

A tristeza poderia se restringir à incapacidade de opinar de maneira consciente sobre qualquer assunto e isso já justificaria um vale de lágrimas, mas vai além: a essas pessoas, incapacitadas de qualquer elaboração mental mais sofisticada, está vedado, por exemplo, o deslumbramento pela literatura e a exultação pela arte.

O verdadeiro cinema, que trabalha com a emoção, está inalcançável, e os filmes de ação representam uma pobre compensação para quem não ultrapassa o simplório entendimento de imagens em movimento. Todo o encantamento que deriva da capacidade de abstração, obrigatória na interação com a arte, está inviabilizado pela ausência absoluta de substrato intelectual.

Esta amputação emocional deprecia o artista e explica por que figuras inacreditavelmente bizarras e ridículas fazem sucesso, ainda que meteoricamente.

A escola pública decadente, com professores desvalorizados, recebe para educar os filhos indesejados de casais pobres, que trazem para este arremedo de ensino cérebros subdesenvolvidos pela fome da infância e cuja incapacidade primária se revela na observação dramática de que mais da metade deles chega à quarta série sem saber ler nem escrever.

Aleksandr Solzhenitsyn, o dissidente comunista, no discurso de agradecimento ao Nobel de Literatura que ganhou em 1970, e não foi a Oslo recebê-lo, porque sabia que se saísse da Rússia seria morto pelos russos, escreveu que a humanidade deveria dar mais valor aos artistas, porque eles são capazes de provocar com sua arte, de forma gratuita e perene, esta impagável exultação que afaga os sentidos e enternece os humanos.

Triste saber que 70% dos brasileiros nunca ouviu falar de Solzhenitsyn e, se o descobrissem agora, não saberiam o que ele quis dizer com aquilo.

Os políticos que, mandato após mandato, ignoram esta deprimente realidade, porque muitos deles precisam dessa legião de descerebrados como massa de manobra para serem reeleitos, serão implacavelmente julgados pela História.

Nenhum país fez, ou fará, a escalada rumo ao desenvolvimento verdadeiro, sem educação!

E nenhum governante pode se orgulhar indefinidamente de sua popularidade se a galeria dos aplausos estava ocupada, em sua maioria, pelas vítimas desse descaso constrangedor!

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