Revelamos aqui as causas e efeitos da insegurança pública e jurídica no Brasil, propondo uma ampla mobilização na defesa da liberdade, democracia, federalismo, moralidade, probidade, civismo, cidadania e supremacia do interesse público, exigindo uma Constituição enxuta; Leis rigorosas; Segurança jurídica e judiciária; Justiça coativa; Reforma política, Zelo do erário; Execução penal digna; Poderes harmônicos e comprometidos; e Sistema de Justiça Criminal eficiente na preservação da Ordem Pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

domingo, 17 de outubro de 2010

REFLEXÃO - Máfia de 1920, Democracia de 2010 e a Origem do ódio entre petistas e tucanos

Entre o debate eleitoral e os filmes de gângsteres. Sobre a máfia de 1920, a democracia de 2010, e a origem do ódio entre petistas e tucanos - PETER MOON - 17/10/2010 - Revista Época. No mundo da Lua, um espaço onde dá vazão ao seu fascínio por aventura, cultura, ciência e tecnologia. petermoon@edglobo.com.br

Estou dividido. Assisti na semana passada ao primeiro debate do segundo turno entre Serra e Dilma, e adorei. Não quero perder o segundo debate, hoje às 21h10, patrocinado por Folha/RedeTV. Mas também assisti a sessão para jornalistas do primeiro episódio de Boardwalk empire - O império do contrabando, a nova série do canal a cabo HBO que estreia hoje às 22hs. E adorei (leia minha resenha aqui). Estou doido para rever o primeiro episódio de novo neste domingo, além do segundo episódio, que não vi, e que também será exibido.

Já planejei tudo, às 21hs vou tirar o moleque da frente da TV e do Discovery Kids. Ele vai chorar, reclamar, paciência. Às 21h10 começo a ver o debate. Aí, às 22hs mudo de canal para a HBO e ligo o Mac. Boardwalk empire na TV, Serra e Dilma no Mac. Gângsteres na Atlantic City de 1920 na telinha, candidatos presidenciais da social-democracia tucana e da esquerda de todas as matizes, as mesmas que se digladiam por causa de purismos ideológicos e manobras do comissariado desde 1917.

Interessante... Brasil, 2010... Estados Unidos, 1920... União Soviética, 1917... Me perdoem a digressão, mas a ela sou levado em virtude da minha formação como historiador. “Quem desconhece o passado está condenado a repetí-lo”, disse certa vez o filósofo espanhol George Santayana (1863-1952). Vejamos por quê?

Em 1920, o mundo estava basicamente dividido entre monarquias e ditaduras de direita. Havia um punhado de democracias liberais, é verdade, como o Reino Unido, a França, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos. Mas em nenhuma o sufrágio era universal. No Brasil, as mulheres só garantiriam o direito ao voto em 1932 - e as argentinas, apenas em 1947. Os negros americanos teriam que esperar até 1965. E os analfabetos brasileiros, até a Constituição de 1988.

Era consenso quase geral em 1920 que as monarquias eram coisa do passado. As trincheiras da Primeira Guerra haviam enterrado quatro impérios: o alemão, o austro-húngaro, o russo e o turco-otomano.

Todo o resto era dissenso. As democracias capitalistas ocidentais enfrentavam protestos liderados por comunistas, anarquistas e socialistas, em luta por maior participação política e um mínimo de direitos aos trabalhadores, numa época que o capitalismo ainda era selvagem.

A recém-instalada democracia alemã da República de Weimar enfrentava a hiperinflação e o espectro da luta sangrenta entre a extrema esquerda e a extrema direita, o futuro partido nazista.

A jovem União Soviética, mergulhada numa guerra civil, era o farol de esperança da esquerda internacional, um espectro generoso que englobava desde a social-democracia mais ao centro (que na Rússia eram os chamados mencheviques), passando pelos socialistas e pelos comunistas seguidores de Trotski, até chegar nos bolcheviques, os jacobinos da extrema esquerda, liderados por Lênin e Stalin.

Raízes do ódio

Bolcheviques e mencheviques surgiram como facções dentro do Partido Operário Social-Democrata Russo, que liderou a fracassada Revolução de 1905. É ela que serve de pano de fundo ao clássico O encouraçado Potenkin (1925), de Sergei Eisenstein, quando tropas czaristas fuzilam centenas de pessoas nas escadarias de Odessa, na Ucrânia.
Do fracasso revolucionário de 1905, seguido por prisões, assassinatos e exílios, até a vitória em 1917, as diferenças entre os bolcheviques de Lênin (os membros do Partido Comunista) e os mencheviques da centro-esquerda (ou social-democracia, se preferirem) só aumentaram.

Aprende-se nos livros de história que a Revolução Russa se deu em outubro de 1917, mas não é verdade. A Primeira Revolução Russa aconteceu em fevereiro de 1917, em Petrogrado (depois Leningrado, a atual São Petersburgo) com a abdicação do Czar Nicolau II e a instalação de um governo provisório, que acabaria liderado por Alexander Kerensky (1881-1970), o líder dos mencheviques.

A Segunda Revolução Russa foi a de outubro, quando Lênin, Stalin e seus bolcheviques dão um golpe e tomam o poder. Imediatamente começam a implantar a ditadura do proletariado - a mesma que os comunistas de hoje chamam de forma eufemística de “democracia do povo”, em contraposição à democracia “liberal” que eles tanto criticam, baseada no pluripartidarismo e no sufrágio universal. Ao mesmo tempo, os bolcheviques extinguiram o direito à propriedade e a iniciaram a expropriação e estatização maciça das fábricas e da terra.

1918, 1919 e 1920 foram anos de guerra civil, quando os revolucionários se concentraram em combater e vencer o exército branco, o dos russos contra-revolucionários, e tropas estrangeiras que invadiram a Rússia para acabar com a experiência revolucionária.

Em 1921, uma vez derrotado o inimigo comum, os mencheviques pediram a liquidação da ditadura do proletariado, a re-privatizacão de vários setores da indústria e a instituição do sufrágio universal, o que incluía dar direito de voto aos membros da antiga burguesia aristocrata.

Era tarde demais. Lênin já havia aparelhado o Estado. Os mencheviques (termo que deriva da palavra russa меньшинство ou minoria, enquanto que Bolchevique deriva de большинство ou maioria) foram presos, assassinados ou enviados aos gulags, os campos de trabalho forçado na Sibéria - uma prática dos tempos do czarismo. Aqueles com mais sorte conseguiram fugir para o exílio. Foi o caso de Kerensky.

Esta foi a ruptura histórica entre bolcheviques e mencheviques ou, em outras palavras, a ruptura histórica entre a extrema esquerda e a social-democracia. Nos 90 anos que se seguiram, a esquerda nunca deixou de nutrir um ódio consistente e constante contra a social-democracia. Talvez porquê a social-democracia triunfou onde os partidos comunistas nunca conseguiram, alcançando através do voto popular os governos da Europa ocidental após a Segunda Guerra Mundial.

Sobre tucanos e petistas

A União Soviética bolchevista e totalitária desmoronou em 1991. Mas a social-democracia herdeira dos mencheviques, sempre com um olho no social e o outro nas liberdades individuais e de imprensa, sobrevive. Os mencheviques estão na origem dos partidos modernos de centro-esquerda. No Brasil, este partido é o PSDB. Os tucanos são herdeiros diretos dos mencheviques trucidados pelos bolcheviques.

O ódio cego que petistas têm dos tucanos, um ódio que certas vezes beira a irracionalidade, remonta à Revolucão de Outubro de 1917. Esta é uma verdade histórica incômoda, que muitos gostariam de ver varrida para baixo do tapete, não obstante uma verdade.

É sob esta perspectiva que entendi a conclamação “alvissareira” feita no dia 13 pelo comitê central do Partido Comunista Brasileiro. Sob o título “Derrotar Serra nas urnas e depois Dilma nas ruas”, este povo arqueológico anunciou “a firme decisão de nos mantermos na oposição a qualquer governo que saia deste segundo turno”. Ao mesmo tempo, “o PCB orienta seus militantes e amigos ao voto contra Serra.” A nota termina com a seguinte afirmação: “Chega de ilusão: o Brasil só muda com revolução!”

Aí, eu me pergunto, em que mundo esses caras vivem?!? Não é o mundo das gangues de Atlantic City de 1920, nem o da vigorosa democracia brasileira, que levou as eleições presidenciais ao segundo turno de 2010. Continuam com a cabeça em 1917?

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Este artigo revela um cenário perigoso que é estimulado pela inoperância dos Poderes de Estado, pela insegurança jurídica e pela insegurança e judiciária que governam o Brasil de um povo adormecido e refém dos poderes político e criminosos. É para refletir junto.

http://pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=2058:derrotar-serra-nas-urnas-e-depois-dilma-nas-ruas-&catid=25:notas-politicas-do-pcb.

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